Um convívio ocasional foi o pretexto para juntar amigos e conhecidos próximos que, em privado, se iam deleitando com comes e bebes além de música seleccionada a gosto e dança que ia proporcionando momentos de intimidade em público.
Poucos dos que presenciavam aquela realidade poderiam imaginar que um ambiente assim alegre, poderia ser o prenúncio de uma desgraça dias depois.
Uma Professora do Ensino Secundário era uma das peças-chave e ia animando o convívio ainda que fosse apenas com a sua presença. Pois, diga-se, não é de passar despercebida.
Dizem-me, os pássaros, que esta professora se fizera acompanhar pelo seu namorado moto-taxista, até ao local da festa.
No calor do convívio e com os cérebros já meio turvados pelo álcool e pela libido, o namorado moto-taxista foi se vendo secundarizado, em detrimento de uma outra presença que, até era de uma individualidade local que se encostava mais tempo à professora e não deixava espaço ao verdadeiro titular. Este foi se remoendo de nervosismo e complexo de inferioridade, tanto mais que o novo titular fazia questão de “esfregar na cara” que aquele era pouco relevante e que estava a mais naquele ambiente.
Terminado o convívio, durante todo o dia seguinte o “golpeado” foi maquinando e tecendo formas de vingança cruel. Entendeu que a vingança devia ser descarregada sobre a namorada que não fora fiel o suficiente e havia permitido que ele fosse vilipendiado naquela noite.
Madrugada do segundo dia, por sinal 21 de Novembro quando a professora se dirigia à sua machamba que dista pouco mais de 10 km da sede da vila, o moto-taxista já se havia adiantado, de mota, com um comparsa e ficou escondido algures à espera de sua vítima. Esta, longe de imaginar, foi caminhando igual a todos os outros dias, rumo ao campo donde espera tirar algo para aliviar o cinto. Chegada ao local da emboscada, o encolerizado “corno” fez-se à professora e foi desferindo golpe atrás de golpe, ao que parece com a clara intenção de exterminar a traidora.
Valeu a providência divina, que colocou ocasionalmente um homem que, ao ouvir os gritos de socorro, correu solícito imaginando ser sua esposa, com a qual saíra de casa e de quem se havia, momentaneamente, separado para ir deixar algo numa casa, a meio do trajecto. Ao chegar ao local, deparou com a Senhora professora agonizando. Mas uma observação mais cautelosa permitiu notar que apesar dos duros e profundos golpes: braço esquerdo com duas fracturas, três dedos da mão direita decepados, vários lanhos na nuca; a Senhora professora ainda estava viva.
Notou que fazia um esforço para dizer algo. Inclinou-se para poder ouvir e da boca da Senhora professora saíu a frase sacramental:
Se eu morrer, quem me fez isto foi o (e revelou o nome do namorado moto-taxista). Felizmente não morreu. Sobreviveu à transferência para o Hospital Central da Beira onde encontrou uma equipe motivada que a atendeu com a celeridade e atenção necessárias, sendo que encontra-se neste momento em franca recuperação.
Se bem que o amor seja cego e que cada um seja livre de escolher a quem quiser por namorado, marido ou amante, manda o senso comum que antes se deve avaliar com antecedência a/o cara a quem nos queiramos entregar. Sob risco de nos reduzirmos a simples mendigos de carinho ou sexo e virar joguetes nas mãos de quem satisfaz nosso apetite, por vezes selvagem.
Não são poucos os casos, em Inhaminga, de lares que se desfazem e em seu lugar nascem outros, cujos cônjuges ficam na boca do povo por parecerem uniões no mínimo exóticas. Pois neste mundo em que aparentemente não há uniões desinteressadas, ou apenas por amor, causa estranheza quando uma funcionária leva à sua mesa, cama e tecto um cidadão de cujos proventos ainda não se ouviu falar. Portanto o sustenta em todos os sentidos e ainda tem que aguentar desaforos e agressões constantes, muitas vezes.
Pode não ser matéria para análise pelas Organizações que proliferam no País e que se dizem defensoras dos direitos das mulheres, mas alguém precisa de despertar auto-estima em algumas funcionárias cá do sítio. É que algumas envergonham as Classes a que pertencem.
Dizem-me ainda os pássaros que depois de consumado o crime o seu autor tratou de desaparecer da circulação. Afirma-se que o comparsa foi localizado, mas do verdadeiro autor ainda não há relatos de neutralização.
Enfim, coisas de Inhaminga.
Crónica do planalto de Cheringoma. (Ricardo Mapoissa).