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Prostituição: Um passo de assassinatos de mulheres em Nhamatanda?

A sociedade moçambicana vê o “negócio de venda do corpo” (trabalho de sexo) de forma desprezível, mas não deixa de ser praticado. A actividade é praticada, dando-se pouca importância da imagem social das profissionais. De formação e requisitos de saúde não são exigidos, até porque as preferências são diferentes em cada cliente, segundo contam as “bonecas ou manas”, carinhosamente, tratadas na praça. A realidade de Nhamatanda não é diferente.

A vila-sede do distrito tornou-se um ponto de encontro de dezenas de mulheres, na sua maioria jovens que procuram o sustento através do sexo. Entre elas, estão as arrependidas e as gananciosas. Por natureza, qualquer actividade envolve desafios, momentos de felicidade e de tristeza, as “bonecas” enfrentam o “doce amargo”, como descrevem os românticos.

Na vila sede de Nhamatanda, a base é pela EN1. Por aquele corredor, há sexo sem compromisso, é por dinheiro ou mesmo por diversão. Há tantas mulheres de Zimbabué, de Inchope (cruzamento entre as províncias de Sofala e Manica-centro de Moçambique), de Muxúngue – direcção ao sul do país, de Metuchira, de Lemego, de Tica, de Chirassicua, de Chiadeia – interior de Nhamatanda e da vizinha Gorongosa.

Algumas viram-se obrigadas a se responsabilizar os filhos frutos de relações falhadas. Há até comerciantes que ganhavam “abaixo”. Conciliam as actividades, de dia e de noite – o foco é dinheiro. Algumas alegam dedicar-se ao trabalho de sexo para sustentar as suas famílias ou curtir a “life”, não interessa o amanhã.

Cada uma com as suas motivações, algumas semelhantes outras não. O que não querem é viver na rua com tanta “potencialidade” (corpo e sexo) como se auto-avaliam. Mas neste trabalho, há episódios de violência, estigma e agressões.

“Faço isso enquanto os meus filhos conseguem estudar, formar-se e ter do melhor. A intenção é também não seguirem o mesmo caminho [da prostituição] ”, avançou a Josinalda, nome fictício para preservar a sua identidade.

“Sou mãe de um filho e de duas meninas. Luto dia após dia para alimentar os meus pequenos. Minto que estou a trabalhar num bar, só para anima-los”, contou a jovem dos seus 30 anos de idade. “Entrei no game, quando separei-me” do homem que agora é chamado de “cão” por não apoiar os filhos.

A vila-sede de Nhamatanda é uma das pausas de camionistas. Ali pernoitam estrangeiros como Malawianos e Zimbabueanos, e nacionais de outras províncias para capital da província de Sofala (vice-versa), até por que Beira é o Porto mais eficaz e eficiente da África Austral. Aliás, independentemente, de ser motoristas, por motivos de lazer alguns homens e mulheres preferem Nhamatanda (no meio entre as capitas de Manica-Chimoio e Sofala-Beira).

O “Profundus” acompanhou episódios de mulheres que na vida fazem companhia aos homens solitários. Enquanto algumas apreciam Nhamatanda, outras avaliam o Ressano Garcia fronteira entre Moçambique e África do Sul, onde a actividade é mais rentável. Aliás, há quem diz que sai a mais a lucrar na cidade da Beira ou Chimoio.

“Quando cheguei, descobri muitas moças que faziam este trabalho. Dali entrei para aumentar a minha renda. Quando meus patrões descobriram, me expulsaram de casa e regressei para Chiadeia, depois vim sozinha, aqui estou”, conta a jovem de 21 anos que trabalhava como doméstica numa residência em Nhamatanda.

Maioritariamente, os autores das agressões e roubos são indivíduos que se fazem de clientes. “Houve uma vez que um cliente me ligou e pediu que fosse ao encontro. Depois do trabalho, deixou-me sozinha. Apareceram os amigos dele, querendo fazer [sexo] de borla sem o meu consentimento. Consegui fugir, mas arrancaram-me dinheiro, chinelos e relógio”, conta outra jovem de 23 anos, acrescentando que: “há semanas calhei com um cliente que me levou até o 5º bairro, dizendo ser obra dele. Insistiu [em manter relações sexuais], não suportei. Ele parecia estar possuído. Já me arrastava como se fosse animal em cima de restos de cimento naquela obra”, conta a jovem. “Não apresentei o caso à polícia, é vergonhoso, às vezes saímos com txuyas”.

“Fui pedir ajuda numa casa próxima dali. Com medo, às 22h os vizinhos estranhando o meu pedido me expulsaram. Pior quando não soube contar que não suportei manter relações sexuais. Logo chamaram-se de puta, vadia, com medo, fugi. Apareci numa manhã para levar minha capulana e chinelos que deixei à noite”, acrescentou.

“Depende de cada um usar preservativo. Mas eu prefiro usar sempre que consigo um cliente, independentemente, do preço. A saúde, em primeiro lugar”, reconhece Amina, outra jovem.

Às vezes, as mulheres escolhem o espaço ou até quarto delas, devendo o homem pagar uma taxa. “Exigimos isso, muitas vezes por causa da segurança que pretendemos”. E sendo assunto intimo, há quem prefere esquinas sem iluminação pública. Provavelmente, estejam aqui uma das razões dos assassinatos de mulheres em Nhamatanda, ainda não esclarecidas.

Os corpos das vítimas são descobertos na manhã seguinte. Ultimamente, regista-se um ambiente considerável calmo, não como os primeiros dias do segundo semestre de 2022 – fruto de uma acção policial.

A jovem que parecia tímida no início da conversa, diz que sabe um pouco da sua honra. Com isso, defende a necessidade de se criar uma lei de protecção e de regulamento do trabalho de sexo ou mesmo reconhecimento do trabalho para evitar “nomes sujos ou abusos dos chefes [autoridades] ou nossos conhecidos. Os maridos das outras diminuem stresse connosco, quando lá em casa há fogo”, chutou.

Há mulatas, umas de nascença e outras resultantes de pomadas que clareiam a pele. As tatuadas com corpo quadril são as mais apreciadas e, facilmente, conseguem clientes permanentes. “Clientes permanentes são aqueles que te ligam depois de um encontro, maioritariamente, são casados e que preferem companhia sem stresse das assumidas senhoras de casa. Dão tudo que pedes e fazemos tudo para esquecerem a situação de casa”, explica a jovem experiente há mais de 5 anos. “Aqui você tem paz”, rematou.

“Meu filho estuda sem sobressaltos com uma vida apreciável, graças ao que ganho”. “É uma actividade não bem vista na sociedade, mas vale pena do que estar na rua, a ser humilhada por quem passa dali”, chutou a jovem que tem um corpo de “guitarra” em linguagem masculina. “Estar na rua a pedir esmola é desperdiçar tudo isso”, falava girando em frente ao jornalista como se montra fosse.

Nas noites, algumas mulheres fingem de bêbadas. É uma táctica para estar no mercado sem receio. Nas bebedeiras ali, entre a via principal da que dá acesso a Praça dos Namorados, Terminal de chapas e Mercado grossista Nzero, um olhar de uma mulher ou homem, facilmente pode ser um sinal de pretensão. Assim vai a vida de algumas com saias curtas de panos leves ou colantes que decalcam o corpo e homens apreciáveis por dinheiro, em Nhamatanda. (Muamine Benjamim).

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