Faltando poucos meses para um ano, continua nos segredos dos “deuses” a informação real sobre assassinatos de mulheres. Também os dados sobre o incêndio da ambulância que culminou com a morte de uma parturiente no recinto do Hospital Rural de Nhamatanda.
O executivo de Nhamatanda, em 2023, disse que criou comissões para investigarem, principalmente, esses dois factos que mais ficaram na memória de cidadãos dentro e fora do distrito.
O que se sabe até agora sobre assassinato é o sucesso – “sem casos” pelo menos pela interpretação popular, não aquela oficial, fazendo continuar assim, a informação “trancada em portas de sete chaves”.
“Temos um número um bocadinho preocupante, tendo em conta que ainda não conseguimos descobrir efectivamente, o que está a acontecer”, disse o administrador de Nhamatanda, Adamo Ossumane, no 20.06.2023, em exclusivo ao “Profundus”.
“São casos que se dão em cada zona, nalgumas vezes, cada zona com suas preocupações e características do tipo de crime, submetemos às nossas entidades competentes [PRM] para fazerem actividade de base” disse o administrador, reiterando que depois disso, fornecerá o “registo” exacto. Até ontem, a população ainda não tinha dados reais de quantas irmãs, sobrinhas, cunhadas perdeu até então por assassinato, como evitar isso sendo que os crimes são descobertos no dia seguinte, quais zonas de risco e qual é a informação exacta.
A não partilha desses dados, provavelmente seja por geoestratégia e geopolítica, aliás, até pelo histórico de Nhamatanda.
Dados recentes
Durante a imortalização de Eduardo Mondlane, no último sábado, em Nhamatanda, Adamo Ossumane respondeu entre várias preocupações apresentadas por jornalistas, mas questionado sobre assassinatos e incêndio, o dirigente chegou até a hesitar a entrevista.
Jornalista: Depois de tentar contextualizar a morte de Eduardo Mondlane por assassinato, “pelo histórico que se tem, mas também para olhar o histórico de Nhamatanda que também viveu aspectos de assassinatos [de mulher], já queria saber qual é a informação que se tem pelas comissões que o distrito criou.
Adamo Ossumane respondeu: “Penso que não há nenhum relacionamento nas condições em que o Doutor Eduardo Mondlane perdeu a vida e o que estamos a assistir de forma até não com muita frequência no distrito, mas já encarregamos à nossa Polícia ao nível do nosso distrito para fazer o aprofundamento e de facto apurarmos a veracidade das mortes que têm acontecido. Não posso fazer o acasalamento com a morte de Eduardo Mondlane com o que está a acontecer em Nhamatanda”. Esta resposta terminou com sorriso do dirigente.
Jornalista: E o caso de incêndio? Ossumane sorriu e saiu com “obrigado”.
Já teriam esclarecido, mas…
Estas preocupações já teriam sido esclarecidas aos jornalistas no ano passado, segundo a última reacção do dia 08 de dezembro de 2023, através do porta-voz da XI Sessão Ordinária do Governo, Sérgio Lucas Quembo Raposo.
“As comissões estão a trabalhar. Neste momento, estão a finalizar os processos”, disse o porta-voz da XIª Sessão do Governo de Nhamatanda, Sérgio Raposo, numa entrevista concedida a jornalistas locais. “Queremos acreditar que teremos informações preliminares sobre a situação dos assassinatos”, acrescentou.
“Estamos numa situação muito aceitável. Já não temos onda de assassinatos no distrito, melhorou muito em termos de segurança”, avaliou os últimos dias.
A última Sessão pela qual haveria esclarecimento, seria realizada no dia 22 de dezembro de 2023, porém, adiou-se para 29- tempo em que o porta-voz já estava de férias, consequentemente, não houve partilha de informação aos Órgãos de Comunicação Social, mesmo depois do pedido. E na Iª Sessão de 2024, Raposo já de volta hesitou comunicação com a imprensa, alegando ”não estar disposto“. Assim vão somando meses sem a população saber quais as reais motivações dos crimes tais como os de Cabo Delgado.
Lembrança que vale
Lembre-se que a onda de assassinatos de mulheres até então não esclarecida em Nhamatanda começou na cidade da Beira, capital de Sofala. Depois de 14 vítimas em duas semanas e uma marcha da sociedade civil, as autoridades intensificaram a patrulha até ao recolher nocturno nas barracas, culminado com a apresentação pública em menos de cinco dias, de dez indiciados, alegadamente porque tinham pertences das assinadas.
Embora agora Nhamatanda tranquilo, o distrito começou a sentir a onda de assassinatos nos finais de 2022.
Ainda sobre a onda de assassinatos, jovens de Nhamatanda foram interrompidos de fazerem uma marcha de repúdio. “Diga basta aos assassinatos de mulheres”, em 2023.
Chegado ao dia, os jovens viram-se ameaçados na Praça dos Heróis Moçambicanos, chegando até a trocar palavras com a PRM, culminando em promessas de detenção. Naquele dia, ao que o “Profundus” apurou, nem a marcha, nem a detenção foram concretizadas, apenas intimidações.
Já sobre o incêndio que ocorreu por volta das 19:30, numa quarta-feira (06.09.2023), no recinto do Hospital Rural de Nhamatanda, também, a população continua sem informações pela comissão criada. Dolca Domingos Vasco foi submetida a uma cesariana por complicações da gravidez (eclampsia), já à noite, o plano era de transferi-la para o Hospital Central da Beira (HCB). Estava no carro o qual explodiu culminado com a morte daquela mãe. (Muamine Benjamim).