Finalmente, o Governo de Chemba deu aval para o abate de crocodilos supostamente problemáticos. A reacção surge depois da população amotinar-se em frente ao edifício do novo administrador do distrito, Bento Zeca.
Por volta das 15 horas da segunda-feira (11.03), uma hora depois da reportagem do “Profundusmz.com”, uma equipa multissectorial fez-se ao vale Zambeze, ali próximo às comunidades do distrito de Chemba, local habitual de ataques de crocodilos.
Nas bermas do rio Zambeze, os representantes do Governo, a população de Chemba e imprensa estiveram diante dos quatro malawianos a tentarem capturar os supostos crocodilos supersticiosos. Mas resultou num fracasso à tarde, mesmo depois de um crocodilo ter engolido a isca por anzol. A caça continuou.
Por volta das 21 horas, os malawianos apresentaram dois crocodilos, tirando da água pelas iscas com anzóis para serem abatidos pela polícia. E no dia seguinte, terça-feira, mais dois foram abatidos.
Quem são os que abateram os crocodilos?
O jovem António Chinkhono, de 29 anos de idade, é o chefe do grupo de quatro homens, todos malawianos.
São os mesmos homens que há dias, foram reportados pela media que teriam matado um crocodilo em Tambara, na província vizinha de Manica. E eles contam “25 crocodilos” só naquele distrito, segundo António Chinkhono, aliás em Chemba, cinco.
Os quatro crocodilos abatidos foram despedaçados e incinerados. Os “especialistas em conhecimentos tradicionais”, dizem que na barriga dos animais, encontraram “chinelos, esferográfica, ossada e uma garrafa de Royal Gin”. Para eles, eram aquáticos “supersticiosos”. E o outro capturado ontem poderá seguir o mesmo processo.
Os malawianos, segundo contam, já vinham fazendo este trabalho desde o país de origem, mas intensificaram as actividades em Moçambique.
Entrevistado pelo “Profundus”, António Chinkhono conta que o grupo consegue capturar os crocodilos através de “anzol com carne de cão”.
“Capturamos só os animais problemáticos supersticiosos”, disse António Chinkhono, avançando que trabalham nas noites ou pela madrugada, tanto que na primeira tentativa da segunda-feira em Chemba, foi um fracasso.
A sua deslocação para qualquer canto depende muito de quem está interessado. No distrito de Chemba por exemplo, os homens foram solicitados pela liderança comunitária.
Mas antes do abate de qualquer animal, na quinta-feira passada (07.03), um crocodilo aterrorizou a população local, ao tentar atacar, chegando até de arrancar uma botija vazia de 5 litros – recipiente usualmente para conservar água.
Braço-de-ferro
A cobrança habitual pelo trabalho varia de “20.000 a 25.000 meticais”, mas com quatro crocodilos, os malawianos cobraram 35.000 meticais.
Os malauianos, na quarta-feira não se fizeram ao rio porque o combino dos 35.000 meticais ainda não foram pagos, aliás, António Chinkhono conta que antes de fazerem os trabalhos, foram desafiados na sala de Sessões do Governo de Chemba, durante a qual, depois de estabelecer os preços, um agente económico local, prontificou-se em pagar todo valor sozinho. Era uma aposta, mas depois de capturarem os animais, saiu em defesa de não querer pagar, consequentemente, não foram pescar os crocodilos, um dia.
Para motivar, a população está a contribuir 50 meticais por cada residência para pagar. Esta informação animou, os malawianos, tendo ido ontem quinta-feira, mergulhar os anzóis.
Chinkhono explicou que o Governo também disponibilizou-se em apoiar com moedas.
Apesar de quase se fazer em segredo, os líderes comunitários já estão a cobrar os bairros, 1º,2 º,3 º,4 º, zona de Expansão e Nhachecha.
Habitualmente, segundo conta Chinkhono, sete dias depois abatendo os animais, saem para as respectivas residências fora de Moçambique. Depois aparecerem para dar continuidade dos trabalhos, depois do pagamento.
Governo em silêncio
O “Profundus” tentou sem sucesso contactar o respectivo administrador, por sinal, novo no cargo e no distrito. Bento Zeca ainda não reagiu. Mas na primeira entrevista, na semana passada, depois da população amotinar-se na residência daquele dirigente, garantiu que partilharia os contornos.
Enquanto isso, a população contribui os 50 meticais fruto de satisfação pelo abate de crocodilos.
O abate dos crocodilos levanta uma discussão. Uns pela falta de provas de se realmente se trata de animais problemáticos e supersticiosos e se só estes são apenas abatidos, outros, se matar seria a solução dos ataques recorrentemente reportados. Entretanto, a população exigiu abate porque as mortes por aqueles animais aquáticos não deixam sossegado o distrito com escassez de água e que recorre ao rio Zambeze. (Muamine Benjamim e Rosário Phoinde Ntepa).