Há países que se gabam de ter eletricidade 24 horas por dia. Pobre ilusão! Em Moçambique, temos algo mais avançado: eletricidade com emoção. Nunca se sabe quando vem, nem quando vai — é um verdadeiro reality show energético. A EDM (Empresa De Mistérios) domina a arte do suspense. Hitchcock ficaria com inveja da capacidade deles de transformar um simples interruptor num instrumento de terror psicológico.
A cada semana, o povo treina reflexos ninjas: o frigorífico apita, o televisor dá um último suspiro e pronto — a aula de paciência começa. “Corte para manutenção”, dizem eles. Mas que manutenção é essa que acontece toda semana, em todo bairro, e sempre na hora da novela ou do jogo? Deve ser o único país onde a rede elétrica é mais visitada que os próprios familiares.
E quando volta a luz, é uma festa nacional! Crianças gritam, adultos aplaudem, e até o gato mia de alegria. O problema é quando ela vem acompanhada daquele estalo sinistro — o som da torradeira e do roteador se despedindo da vida útil. A EDM, claro, não tem nada a ver com isso. Os nossos eletrodomésticos morrem de causas naturais, segundo eles.
Dizem que ninguém é perfeito, mas a EDM se esforça para provar o contrário: consegue cortar a luz no meio do dia e a explicação só vem na madrugada. E se reclamar, o atendente responde com voz zen: “Estamos a trabalhar para melhorar o serviço.” Uma frase que, traduzida do emakhuwa, significa: “Acostume-se.”
A verdade é que a EDM é uma grande professora. Ensina-nos a valorizar o nascer do sol, o brilho da vela e o poder do carregador portátil. Um povo que sobrevive aos cortes sem perder o humor é invencível. No fundo, Moçambique não tem apagões — tem aulas de resistência. E cada vez que a luz volta, o povo não vê apenas a eletricidade… vê esperança piscando em 220 volts.
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