Lá na escola primária, entre giz e carteiras, aprendi uma das lições mais úteis da vida: rotação de culturas. O professor dizia que, se o camponês plantasse sempre a mesma coisa no mesmo chão, a terra cansava — e a colheita minguava. Por isso, o segredo era variar: hoje mapira, amanhã algodão, depois gergelim. Um ciclo sábio que dava tempo para a terra respirar.
Mas parece que essa lição escapou dos manuais de agricultura e foi parar, de forma criativa (ou desastrosa), nos gabinetes do governo moçambicano. Hoje, praticamos a rotação de ministros, uma técnica de cultivo político que promete tudo — menos produtividade.
Funciona assim: o cidadão fulano, formado quem sabe em biologia marinha, começa como Ministro das Pescas. Depois de um tempo, é transplantado para o Ministério da Indústria — afinal, peixe ou parafuso, tudo é recurso natural, não é? Quando a terra começa a dar sinais de exaustão, ou melhor, quando o povo começa a reclamar, lá vai ele germinar no Ministério da Saúde. E se ainda sobrar fôlego, pronto: é semeado no da Educação, ou colhido para ser Primeiro-Ministro.
É uma verdadeira machamba política, onde o importante não é o saber, mas o cargo. O critério? Nenhum. Só a regra sagrada da rotatividade: “não deixemos o solo do poder descansar sem um ministro plantado”.
O resultado é previsível: tal como o camponês que planta milho num solo esgotado, colhemos decisões murchas, políticas raquíticas e promessas que nascem e morrem antes da colheita. O país vira uma plantação de improvisos, onde cada safra ministerial tenta adubar os erros da anterior — com resultados dignos de uma tragédia agrícola.
Talvez o problema seja que, enquanto os camponeses rotacionam culturas para fortalecer a terra, os políticos rotacionam cargos para fortalecer-se na terra. E, nesse vai e vem de pastas, Moçambique segue arando o mesmo terreno, esperando que a produtividade venha por decreto.
Mas quem sabe um dia alguém se lembre da lição do velho professor: sem cuidar do solo, não há colheita boa — nem na machamba, nem na política.
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