Clube da Rapariga: Um refúgio e esperança de milhares das comunidades pela Gorongosa

O Parque Nacional da Gorongosa (PNG) juntou centenas raparigas acompanhadas de madrinhas e promotores representantes dos seis distritos nomeadamente Nhamatanda, Gorongosa, Cheringoma, Muanza, Dondo e Maringué, no Dia Internacional da Rapariga, 11 de Outubro, para partilharem ideias inspiradoras e decidirem de olho para olho “sou rapariga, sou mudança, tenho sonhos, sou importante, sou capaz e acredito”.

Na Zona de Desenvolvimento Sustentável do Parque Nacional da Gorongosa, a lista de violações de direitos inclui uniões prematuras, gravidez indesejada de menores, violência doméstica, violência baseada no género e abuso sexual. Contra estes males que vitimizam as raparigas, o Parque viu-se obrigado a criar mecanismos de intervenção estratégica. Assim nasceu o Programa Clubes da Rapariga.

O Parque Nacional da Gorongosa continua a expandir as suas iniciativas, impactando raparigas da sua Zona de Desenvolvimento Sustentável. São 9 anos com o Clube de Raparigas iniciado em 2016.

Segundo a gestora do Clube de Rapariga, Joana Dinis, o Programa trabalha em estreita colaboração com as Escolas, Serviços Sociais e Polícia, capacitando Conselhos de Escola e Comités de Protecção da Criança, divulgando a Lei n.º 19/2019 – Prevenção e Combate às Uniões Prematuras em Moçambique, de 22 de Outubro de 2024, mecanismos de denúncia e apoio a vítimas e resgate da rapariga em risco.

O Clube da Rapariga não é simples lugar onde as meninas aprendem conteúdos de literacia, numeracia, mas também a diversificação de habilidades para a vida, aprendem a sonhar e a seguir sonhos, a se inspirar, a dizer não a união forçada e prematura. Afinal, serve de refúgio para quem pensa que o mundo é tão cruel sem saída.

O Clube da Rapariga, também inclui as meninas arrependidas por decisões anteriores decepcionantes, mas que agora servem de exemplos práticos para as outras a seguirem os sonhos.

Além das capacitações, o Parque tem apoiado na disponibilização de recursos para urgência de vítimas. Por exemplo, em 2024, o Programa Clube de Rapariga esteve envolvido directamente na denúncia e seguimento de 57 casos de risco de união prematura, violência doméstica e/ou sexual. Dois casos ocorreram o ano passado, um em Casa Banana e outro em Vunduzi, ambos casos de violação sexual contra raparigas menores.

As autoridades não têm recursos e meios para chegar muitas vezes a comunidades mais distantes, e em ambos os casos, de extrema urgência, o Parque comparticipou com o combustível para as viaturas chegarem e levarem os perpetuadores à justiça.

O Programa Clubes da Rapariga combina iniciativas de educação e conservação ambiental, para que as comunidades sejam actores de mudança localmente.

Inicialmente com um Clube, hoje, o Parque conta com 102 Clubes em 95 escolas, abrangendo os seis distritos da sua Zona de Desenvolvimento Sustentável.

Segundo a gestora do Programa, “cada Clube da Rapariga conta com 50 membros, sendo 40 raparigas e dez rapazes”, portanto, mais de 5 mil crianças beneficiam dessas iniciativas.

Dos 102 Clubes disponíveis em diferentes comunidades, 45 são apoiados pela Carr Foundation, 45 pela Noruega, seis pelo Canadá e seis pela Alexander Gruner Foundation.

No Clube da Rapariga, “desde cedo, começamos a atribuir bolsas para o ensino secundário. Em 2025, temos 108 bolsas ativas, sendo 68 bolseiras no distrito de Gorongosa e 40 raparigas no distrito de Cheringoma”, disse Joana Dinis, incluindo meninos.

Os bolseiros resultam de critérios de vulnerabilidade e interesse de aprendizagem, enquanto frequentam o ensino primário.

Continuam os esforços da Gorongosa. Raramente as raparigas desperdiçam a oportunidade. Mas este ano, uma rapariga perdeu a bolsa depois de engravidar com 21 anos ainda na 11.ª Classe, em Gorongosa. Uma vez dada a bolsa, rapariga assina um documento de compromisso com a bolsa. Não pode falhar o ano escolar (reprovar ou chumbar) e não pode engravidar, senão perde o direito à bolsa. Desperdiçou porque sem aquele apoio, “muito provavelmente não estaria na escola [secundária] ”.

Das centenas de raparigas participantes das comemorações do Dia Internacional da Rapariga, 11 de Outubro, em Chitengo (Gorongosa), 15 são finalistas bolseiras. Então, o lugar delas será atribuído a outras necessitadas.

 

“Tenho sonhos, sou importante, capaz e acredito”

Luísa Chico Bonjesse tem histórico, desde que o Clube da Rapariga iniciou em 2016. Foi a primeira pessoa a ingressar na iniciativa quando estava no ensino primário. Hoje, é finalista da 12.ª Classe pela bolsa de estudos.

Muitas meninas que ingressaram no Clube da Rapariga na época da Luísa Chico, “abandonaram o ensino primário para se unirem prematuramente, assumindo o papel de mãe, esposas e noras, mas hoje estão arrependidas”, disse.

“Se tem objectivo deve dizer, sempre, eu consigo. Não duvidar naquilo que está na tua mente. Dar vontade aos pais” e a Gorongosa pelo apoio.

Hoje, Luísa Chico Bonjesse projecta-se para ser jornalista e inspirar outras.

Zelita Elísio Manuel ingressou ao Clube em 2018. Negou se unir prematuramente para estudar.

Quando fazia a 6.ª Classe teve histórico igual da Luísa sobre o Parque, mas continuou a confiar até ganhar a bolsa de estudos com a qual hoje faz a 12.ª Classe.

Rapariga, “não siga o que as pessoas dizem [de errado]. Continue com o teu sonho, não case cedo e continue a estudar”, aconselhou Zelita.

Hoje, Zelita Elísio Manuel projecta-se para ser professora da sua comunidade.

O Clube da Rapariga é apoiado pela Carr Foundation como o principal doador e financiador das iniciativas do PNG, pela Embaixada da Noruega em Moçambique, pela Embaixada do Canadá em Moçambique e pela Alexander Gruner Foundation. (Muamine Benjamim).


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