Mesmo depois do culto de quase uma semana na Escola Secundária Geral de Nhamatanda (ESGN), os alunos continuam a delirar. A situação já é de coçar cabeça. Hoje, caíram mais de dez alunos.
Quem ouve pode duvidar, parece filme científico, mas quando uma escola interrompe aulas devido aos alunos que desmaiam, agridem e criam danos materiais, cenários anormais, é mais preocupante. O pior ainda é quando pela primeira vez delirar naquela escola, será para sempre, é questão de tempo.
A situação influencia o processo de ensino-aprendizagem e respectivo aproveitamento pedagógico dos afectados, uma vez que quando desmaiam, agridem e destroem bens da escola motivando o fim de aulas, independentemente do horário.
O término das aulas já não depende do horário, mas sim de delírios. Já é possível cruzar com professores a regressarem da escola tão cedo por conta da situação. Mas havia esperança depois dos “madzibabas” ou pastores zimbabweanos fazerem um culto no recinto escolar, envolvendo alguns alunos afectados e interessados contra este mal.
A escola interrompeu as aulas durante as últimas duas semanas de junho para dar espaço ao culto, na esperança de ver os futuros gestores de Moçambique fora de desmaios.
Hoje, segunda-feira, esperava-se que fosse um dia normal pelo menos para os alunos daquela escola, mas foi ao contrário, desmaiaram, incluindo os educandos submetidos ao culto dos “madzibabas”. Nas primeiras horas caíram cerca de seis, esta tarde mais seis.
Zimbabwianos “madzibabas” em Nhamatanda
Mais de 15 homens provenientes do país vizinho Zimbabwe estiveram no recinto da Escola Secundária Geral de Nhamatanda quase uma semana a “operar milagres” contra maus espíritos que atacam alunos, principalmente raparigas.
Tal como se duvida em Nhamatanda, os pastores alegaram que o distrito de Changara, na província de Tete, há 8 anos também inicialmente houve dúvidas, mas depois do ritual não registou casos de desmaios na escola, conta o pastor chefe dos “madzibabas” Desnay Lutuko Parirenhatua.
Os pastores locais fugiram no dia 13 de junho do ano em curso, abandonando o “culto de libertação”, não houve tempo para tal e muito menos a “libertação”.
No dia, antes mesmo do evento, cerca de sete alunas espalharam-se no recinto escolar, agredindo todos com tudo à sua volta, à semelhança de “vampiros”, todos fugiram, incluindo os “homens de Deus”. Então, recorreram aos “madzibabas” – os considerados especialistas em espiritualismo e/ou área relacionada a demónios.
Segundo segredou um dos pastores em Nhamatanda, o problema daquela escola não cabia a um simples homem que grita “aleluia e amém”, senão ficaria com o problema todo para a sua família. “Não apenas ver, há que ver e solucionar”.
Os “madzibabas” não cobram, apenas pedem transporte, hospedagem e alimentação. Para tal, pedem passaporte para o que chamam de trabalho de “caridade” a qualquer canto.
Ritual na escola, uma solução?
Em Moçambique, a ESGN foi a nova casa dos “madzibabas” com alimentação, alojamento e ritual.
No primeiro dia, os “madzibabas” jejuaram, fizeram fogueira no meio do recinto escolar, com orações, girando pelas laterais da escola até as salas de aulas, todos descalços e cobertos de capulanas de cor branca. Esta fase inicial para os pastores é uma vedação espiritual para que tudo corra bem. É como quem delimita o território.
Primeiro, só os alunos afectados por desmaios foram submetidos ao ritual, onde os pais testemunharam. Todos descalços.
Na segunda-feira desta semana, os zimbabweanos completaram quatro dias naquele recinto escolar, dormindo e “operando”, das 6 horas até ao término do número dos interessados para o ritual. Nenhum aluno dirigiu-se à escola “possuído” como de habitual. Mesmo os dois alunos mais temidos, que aparecem em vídeos a quebrar carros e vidros da escola, tentaram resistir quando foram submetidos ao ritual.
Depois, o ritual incluiu todos os alunos da escola, independentemente de ser afectado. Este ritual geral, segundo o pastor chefe, Desnay Lutuko Parirenhatua, era para “purificá-los”.
Ora, em Nhamatanda, os alunos submetidos ao ritual não chegam a equivaler pelo menos cinco turmas da escola. Uns por vergonha, outros por não querer mesmo, aliás, legalmente, outros fizeram pela ideia de laicidade.
“Eu espero que seja solução mesmo participar daquele culto, cair sempre em qualquer lugar, envergonha-me”, disse a aluna Margarida, nome fictício, para evitar exposição por esta polémica do distrito.
Desnay Parirenhatua explicou que há um feitiço feito naquela escola por dois dirigentes que não queriam sair do cargo. Portanto, a prática estaria a fortificar a permanência na chefia. Tanto que os dois alunos que aparecem em vídeo a quebrar carros e vidros da escola representam os dois funcionários.
Agora, há receio entre colegas da Escola Secundária Geral de Nhamatanda.
O ritual geral consistia em ajoelhar-se diante de um pano branco em posição de bandeira, no meio dos “madzibabas” enquanto eles cantavam. Do lado esquerdo estava uma panela de água no fogo. Tiravam dali com balde para bater pela cara dos ajoelhados. Alguns deliravam, outros não. Tempo depois, ainda em fila, distribuíram a água tirada do fontanário da escola, com orientações de misturá-la com outra de casa, sendo também fervida, tomar banho de manhã e noite sem se limpar ao dormir, três dias consecutivos e sem se fazer à escola.
“Cansamos de ver nossos filhos a desmaiarem. Naquele momento ganham força estranha, não se explica. Nossos filhos começaram a desmaiar naquela escola pela primeira vez e já não param, por isso espero que esses madzibabas resolvam o problema”, disse Mário José, pai e encarregado de educação daquela escola.
“Antes desses madzibabas, a escola chamou-nos numa noite para fazerem oração, mas quando começaram a manifestar, os próprios pastores locais fugiram e ficamos desesperados à procura das nossas filhas naquele capim ao redor da escola”, lembra o pai.
Desnay Parirenhatua orientou para confessar aquela prática maligna, mas ninguém o fez. Apenas um e outro funcionário da escola pediu oração, alguns até vieram de noite e saíram com a água que os “madzibabas” davam depois do ritual geral, portanto, um ritual sofisticado.
Os “madzibabas” dizem que todo ritual é feito sem remédio, apenas fé, mesmo em Zimbabwe.
Parirenhatua deixou um aviso, os funcionários não podem portar nenhuma coisa relacionada a feitiço para aquela escola, quem o fizer, há-de ver sozinho. E mais, quem fez aquele feitiço que afecta alunos, também há-de ver sozinho.
Contudo, hoje, a principal via de acesso à Escola Secundária Geral de Nhamatanda foi parcialmente ocupada por alunos tentando escapar das agressões de colegas a delirarem. Neste momento, a escola está sem aulas.
As raparigas que estavam a delirar foram trancadas na sala da Secretária, mas um aluno também “possuído” invadiu e libertou as alunas, criando mais pânico e automaticamente o fim das aulas. Detalhes no semanário Profundus. (Muamine Benjamim).
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