Uma mulher de aproximadamente 30 anos de idade, madrasta de um menor de 7 anos, encontra-se detida no Comando Distrital da Polícia da República de Moçambique (PRM) no distrito de Dondo, em Sofala, indiciada de ter causado a morte da criança por envenenamento.
Osvaldo vivia com o pai, a madrasta e um irmão de 2 anos, no bairro Consito em Dondo. Perdeu a vida na tarde da última quinta-feira, sendo transportado para o Centro de Saúde local, depois de encontrado deitado no chão.
Parecia um dia normal, mas mudou na tarde do dia. “De manhã, preparei a comida que havia sobrado da noite anterior, xima, e dei ao pai e às duas crianças para o pequeno-almoço depois de comer, saiu para a Beira”, após a partida do marido, decidiu dar banho aos dois meninos porque as roupas estavam a cheirar a urina.
“Lavei primeiro o mais velho e depois o mais novo, vesti-os o mais velho disse-me que queria ir brincar. Eu autorizei, mas alertei que deveria brincar perto de casa e estar atento à hora, porque o pai voltaria em breve”, relatou.
A indiciada, disse que o menino saiu a jogar bola e minutos depois até que vizinhos deram o alerta.
“Três rapazes que passavam viram o corpo, logo me chamaram dizendo que o Osvaldo estava deitado lá dentro [casa de banho] aproximei e percebi que a criança estava no chão. Chamei a vizinha, dona da casa que também notou um cheiro estranho, que parecia ser de ratex”, descreveu.
Já o pai da vítima, Augusto Peranhe, relatou em lágrimas os instantes de aflição que viveu ao encontrar o filho em agonia. “Quando saí de casa deixei o meu filho bem. No meu regresso, a minha irmã — que é dona da casa —, ao me ver entrar no quintal, disse: ‘Mano, corre lá, a criança está mal na casa de banho’. Fiquei sem entender, porque tinha deixado a criança saudável. Ela disse que tinha sido envenenada. Corri até à casa de banho e encontrei o meu filho deitado no chão, com a roupa molhada e já com sinais de despedida. Peguei nele e levei de [moto-taxi] até ao hospital. Lá recomendaram-me comprar leite, mas quando regressei já estava sem vida.”
“De manhã havia uma xima que tinha sobrado. Eu comi a minha parte e saí de casa. O meu filho também comeu. Agora não sei o que aconteceu depois da minha saída”, o exame de autópsia veio trazer novos contornos ao caso. O relatório médico aponta que a causa da morte foi ingestão de água envenenada, descartando a hipótese de intoxicação alimentar.
Diante do desfecho, o pai levanta suspeitas sobre as tensões que marcavam a convivência familiar. “Resta saber quem fez isso. A convivência já não era fácil, sempre vivíamos em constantes desentendimentos. Mas saber que, no coração dela estava a pensar em fazer uma coisa destas, eu não sei”, desabafou o pai da vítima.
Falando na última sexta-feira à imprensa, o porta-voz do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) em Sofala, Alfeu Sitoe, apontou a madrasta da vítima como suspeita do momento.
“É natural que ninguém assuma de imediato a prática de um crime desta natureza, mas se olharmos para o contexto e histórico, a primeira responsabilidade recai sobre a madrasta. Mesmo que não tenha administrado directamente a substância, houve no mínimo negligência” sublinhou ainda que todo menor exige cuidado e atenção.
Segundo o porta-voz, a suspeita teria percebido que a criança passava mal antes do regresso do pai, mas não tomou qualquer medida para levá-la ao hospital.
“Ela [madrasta] limitou-se a esperar o regresso do pai [do menor], em vez de procurar ajuda médica, isso reforça os indícios contra si. Além disso, há um antecedente grave: o filho biológico desta senhora também perdeu a vida em circunstâncias semelhantes, supostamente por envenenamento, na ausência do pai”, acrescentou Alfeu Sitoe.
A autópsia realizada ao corpo da vítima revelou a presença de uma substância tóxica, vulgarmente conhecida por ratex, usada habitualmente para matar ratos, confirmando a hipótese de envenenamento.
As investigações continuam, porém, o porta-voz do SERNIC destacou que as evidências recolhidas são fortes e justificaram a detenção imediata da madrasta.
“As diferenças não podem transformar-se em raiva ou violência. Crianças não devem ser vítimas de conflitos conjugais, nem alvo de substâncias tóxicas administradas de forma intencional. Precisamos cultivar a harmonia dentro das famílias para evitar tragédias como estas”, apela Alfeu Sitoe.
O caso choca a comunidade e reabre debates sobre os níveis de violência doméstica e segurança infantil em ambientes familiares conflituosos.
Noutra abordagem, o SERNIC anunciou a detenção de um cidadão na cidade da Beira, indiciado de burla agravada. Teria burlado pessoas com a promessa de venda de terrenos, arrecadando 103 mil meticais.
“A terra em Moçambique pertence ao Estado e não pode ser vendida. Este cidadão recolheu valores de pessoas, mas nunca disponibilizou qualquer parcela, ficando com o dinheiro em seu poder”, explicou Sitoe.
Ainda em Sofala, no distrito de Nhamatanda, foi detido outro cidadão, indiciado de homicídio agravado. O caso está em fase de instrução preparatória, após a investigação ter revelado fortes indícios contra o acusado.
O porta-voz do SERNIC apela para uma convivência saudável nas famílias e na sociedade em geral. “As diferenças não podem transformar-se em raiva ou violência”. (Narcísio Cantanha).
Discover more from Jornal Profundus
Subscribe to get the latest posts sent to your email.