O Parque Nacional da Gorongosa (PNG) capacitou entre os dias 26 e 30 de maio de 2025, 126 promotores dos Clubes da Rapariga existentes nas comunidades dos seis distritos da Zona de Desenvolvimento Sustentável (ZDS) do Parque. O treinamento ocorreu simultaneamente em três localidades diferentes, com a mesma agenda e objectivos de treinar os promotores nos novos currículos de alfabetização e numeracia do Clube de Rapariga.
Os promotores de Maringué e Cheringoma serviram em Inhaminga, os promotores da Gorongosa foram capacitados na Gorongosa, e os promotores dos distritos de Dondo e Muanza juntaram-se a Nhamatanda.
Em Nhamatanda, o treinamento que termina hoje, sexta-feira, juntou 18 mulheres e 16 homens promotores jovens dos distritos de Nhamatanda, Muanza e Dondo, com a equipa de formadores do Clube da Rapariga e técnicos do SDEJT, somando no total 124 promotores na ZDS.
“Os antigos guiões não estavam bem desenvolvidos”, revelou o supervisor de educação para Muanza e Dondo, Luscídio Luís Alexandre Meque, além de que os manuais já estavam em número reduzido depois da passagem do ciclone Idai em 2019 o qual afectou igualmente a Gorongosa.

Para Luscídio, no novo manual, as crianças vão aprender baseando-se em jogos muito mais o vocabulário, fluência e compreensão na língua portuguesa- classes gramaticais sinonímia, antonímia, adjectivos. Já na numeracia, o guião inclui cálculos simples, com imagem e linguagem mais acessível.
As crianças não têm muito tempo para estarem a escutar um promotor semelhante ao professor, por isso, com o novo guião as crianças “farão as próprias sessões, tornando-lhes activas pela aprendizagem baseada em jogos”.
Para toda a Zona de Desenvolvimento Sustentável do PNG, o supervisor distrital espera que as comunidades mandem as crianças para a escola e Clube de Rapariga.
Além da apresentação do novo plano de sessão dos Clubes de Rapariga, baseado nos guiões de Literacia e Numeracia, as sessões incluíram partilha de experiências dos promotores sobre matérias de protecção e salvaguarda da criança e o reforço do respectivo código de protecção; acordos de voluntariado; revisão dos métodos activos e participativos (círculo duplo, mesa redonda, toalhinha de mesa, mapa de conceito e cadeia de fala); criação de grupos para a planificação e simulação de sessão com conteúdos de literacia e numeracia, com utilização de material didáctico e técnicas de inclusão de conteúdos sobre Meio Ambiente.
Prontos para educar raparigas
O manual expõe “qual é a actividade a iniciar, o que vamos finalizar, as crianças já não vão recorrer aos cadernos para apontamentos. Vão aprender mesmo em forma de brincadeiras, não pressionar a rapariga como acontece nas escolas”, revela a promotora do Clube de Raparigas da comunidade de Mueredzi –Muanza, Ana José Fombe, acrescentando que por vezes recorria aos livros da escola para as instruções, como já não será necessário fazer mais.

O promotor do Clube da Raparigas da comunidade de Nhampoca –Nhamatanda, Daniel Lucas Jemusse descreve a diferença nos dois manuais. “O antigo manual deixava o promotor a dar as sessões. Já com o novo manual, o promotor irá orientar as sessões sendo dadas pelas raparigas, o que irá possibilitar mais compreensão delas.

A promotora Albertina Luís Chicote, da localidade de Nhampoca- Nhamatanda, diz que o manual está muito compreensível. “Ao ler e interpretá-lo será mais fácil para as 40 raparigas e 10 rapazes membros” do seu Clube compreenderem.

Nas comunidades em redor ao Parque, a lista de violações de direitos inclui uniões prematuras; gravidezes indesejadas de menores cujo parto pode levar à morte; a ideia de que uma menina menstruada não pode atravessar as ruas, logo, não pode ir à escola; violência doméstica; violência baseada no género; e abuso sexual. Contra estas práticas negativas, a Gorongosa promove cerca de 100 Clubes da Raparigas dirigidos por promotores treinados, ensinando as meninas sobre a sua saúde sexual e reprodutiva, matérias de literacia e numeracia, direitos e deveres da criança. Ou seja, nesses Clubes, as miúdas conhecem o seu corpo, aprendem a sonhar, sabem tratar da higiene menstrual, afastar-se de comportamentos de risco e aprender a negociar com os pais a dizer um dia caso-me, mas não já.
Existem histórias de impacto resultantes desses Clubes. O caso recente é de Jena Kenade. Com 16 anos, recusou várias tentativas de união prematura. Conseguiu escapar para a vila de Gorongosa pela bolsa de estudo atribuída com apoio do PNG e a Cruzada por Los Niños.
Portanto, o Clube no qual Jena aprendeu, também vai ter um novo guião de literacia e numeracia.