Olá, me chamo Anita, tenho 27 anos, sou casada, e sempre quis ser útil à sociedade.
Quando fui chamada para a formação policial em Matalane, achei que Deus finalmente estava me abrindo uma porta. Mal sabia eu que estava entrando no inferno mascarado de disciplina.
A fome em Matalane não era só de comida era fome de respeito, de humanidade, de justiça. Lá dentro, o que nos mantinha de pé não era esperança, era sobrevivência animal.
Dormíamos no chão duro, tremíamos de frio com cobertores rotos, e se ousássemos reclamar… castigo. Treinos até o corpo sangrar.
Mas havia um “atalho” cruel: entregar o corpo para garantir o mínimo de dignidade.
Instrutores. Homens com farda, com poder.
Vinham sorrindo à noite, com promessas sujas:
“Queres comida quente? Deita comigo.”
“Queres descanso? Faz silêncio e me obedece.”
Eu resisti até onde pude. Mas quando a fome começou a queimar meu estômago, quando meus ossos doíam de frio, quando a pele já não aguentava mais os castigos… eu cedi.
Não uma vez. Não com um só.
Cada “sim” que eu dava não era escolha era desespero.
Cada noite vendida deixava um pedaço da minha alma para trás.
E no fim, quando recebi o certificado, a farda e os parabéns… eu já não me reconhecia mais.
Na última semana de formação, algo me derrubou por completo: grávida.
A única coisa que eu sabia com certeza… era que não fazia ideia de quem era o pai.
A vergonha queimava mais que o sol no treino.
Como vou dizer isso ao meu marido?
Um homem digno, que confiou em mim, que me esperou.
Como vou encarar a corporação, que proíbe recém-formadas de engravidarem? Onde só existe punição, nunca escuta.
Estou em silêncio. Carregando uma farda que pesa mais que meu corpo. Carregando uma criança que veio do meu sofrimento. Uma vida que não pedi, mas que agora depende de mim.
Eu não falhei. Eu fui quebrada.
Fui usada, calada, descartada.
E o pior? Ainda sou tratada como culpada.
Esta história não é só minha. É de muitas. Mas quase ninguém fala. Porque a vergonha é nossa. A culpa é nossa.
E eles? Seguem livres.
Preciso do seu conselho, não sei o que fazer.
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