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Paulo “reabilitado”: De rua e drogas para vida normal

O primeiro contentor que acolher Paulo

Chama-se Aniceto Abichaya Guambe, popularmente, Paulo Festa, um jovem de 21 anos de idade, residente na cidade de Maputo. Passou quase toda a sua infância e adolescência em vários pontos da província de Maputo, em Magoanine, na Guerra Popular, no bairro Estrela Vermelha até em algumas bombas da cidade da Matola. Nessa altura, a sua sobrevivência dependia de restos de comida deitada em contentores de lixo.

Hoje, Paulo está “longe” das ruas, levando a sua vida normalmente. Entretanto, referiu que a vida da rua “tornou-me o homem que sou hoje, ensinou-me muita coisa. Foi uma escola que nunca frequentei”.

O “Profundus” conversou com o ex-morador de rua, que contou fragmentos da sua vida de errante até aos tempos que correm. Disse que começou a viver na rua quando tinha 7 anos de idade, numa altura em que a sua mãe estava longe de si e era maltratado pelo seu pai. Este foi, na verdade, o motivo que o levou a abandonar a casa.

Paulo nunca frequentou a escola. Aos 2 anos de idade, foi desvinculado do convívio com a mãe. “O meu pai dizia que ela me abandonou, por isso, fiquei com ele, que acabou tendo outra mulher. A partir daí, mudou muito. Passei a sofrer maus-tratos deles. Insultavam-me e cheguei a dormir na varanda das casas dos vizinhos e capoeiras de patos. Naquela altura, era criança.

Um dia, abandonei a casa, mas não tinha noção do que era viver na rua”. Afirmou que “até agora não tenho aquela ligação forte com o meu pai”.

Entretanto, passados vários anos, reatou os laços com a sua mãe, depois que a reencontrou. “Com ela tenho criado laços afectivos”.

 

Nas drogas

Paulo disse que quando residia na rua, começou a consumir álcool e drogas. “Fumei cigarros e bebia para satisfazer os amigos e para estar na mesma quadrilha com eles. Era a única forma de me proteger, porque se não o fizesse, a minha vida seria mais dura, existiam os mais velhos que nos obrigavam. Mas não demorei a deixar, porque não me levaria a nenhum lugar. Uns não gostaram da minha atitude [saída das drogas], por isso, cheguei a ser agredido por amigos”.

Capa da edição Profundus151.24.11.2023

O sofrimento de Paulo acabou quando foi acolhido por um centro de reabilitação pertencente a uma entidade religiosa três anos depois com a vida da rua.

Encontraram-no ao lado de um contentor. “O centro “Casa Mateus 25” acolheu-me quando era criança. Tinha de 10 a 11 anos. Os irmãos trataram de toda a minha documentação, vestiram-me. Nunca mais passei fome, pagaram-me um curso de decoração de eventos. Agora estou a tirar o curso de jardinagem. Este centro tem-me ajudado”. Actualmente, reside numa casa arrendada, cuja renda paga com o valor que ganha nas suas actividades como decorador de eventos.

Paulo recuperado

Ao “Profundus”, Paulo compartilha o sonho de “voltar a estudar e, um dia, construir uma casa ou um centro para acolher aos meus amigos e aos que precisam de ajuda. Quero fazer pelos necessitados, o mesmo que foi feito por mim”.

Há tantos na rua, com motivos diferentes. Paulo é um exemplo recuperado com sucesso e já consciente, trabalha e sustenta-se. (Alfredo Armando).

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