PELA GORONGOSA: 15 mil alunos beneficiam de 156 salas condignas

O Parque Nacional da Gorongosa (PNG) já entregou as 26 escolas básicas construídas na sua Zona de Desenvolvimento Sustentável, além de carteiras escolares a beneficiar 15 mil alunos. Foram construídas com fundos disponibilizados pela USAID, geridos pelo Projecto de Restauração da Gorongosa, com assistência técnica da UN-Habitat e parceiros implementadores como OIKOS e AVSI (ONG’s com experiência em construção civil envolvendo as comunidades).

Antes do ciclone Idai, cerca de 68% das 100 escolas primárias da Zona de Desenvolvimento Sustentável do Parque Nacional da Gorongosa eram construídas com material precário, como barro e madeira não tratada, tornando-as vulneráveis a danos e oferecendo condições de ensino inadequadas.

Agora, as comunidades não apenas ganharam escolas, mas também abrigos. Os edifícios foram projectados para, igualmente, funcionarem como refúgios seguros para abrigar os locais no caso de ocorrências de eventos extremos (ciclone) na região.

As 26 escolas construídas utilizando tecnologias de construção sustentável e resilientes (material misto, fabricado e não fabricado), como sapatas isoladas e massa de cimento para fazer a base onde estarão as carteiras, para paredes, tijolos, rede de galinheiro, ancoragem com madeira, bambu pregado e por cima a massa de cimento.

Ao todo, são 156 novas salas de aula já entregues nos distritos de Gorongosa, Nhamatanda, Maringué, Gorongosa, Muanza, Cheringoma e Dondo.

Com o apoio da Fundação Carr, foram também fabricadas 3.744 carteiras, todas seguindo as especificações técnicas do Ministério da Educação de Moçambique para as novas salas já entregues.

Estas escolas são consideradas de ecossistemas educacionais, compostas por seis salas de aula, uma sala administrativa, latrinas separadas para meninas e meninos, duas casas para professores e sanitários masculinos e femininos para professores e um furo de água em cada escola.

Estas construções envolveram as comunidades dos seis distritos para futuramente conseguirem dar suporte e assistir na manutenção dessas escolas, garantindo a qualidade do ambiente para as crianças e comunidades por mais tempo.

As comunidades também foram envolvidas no fabrico de blocos de tijolos queimados que preenchem as paredes das escolas.

Segundo a directora do Departamento de infra-estruturas sociais e desenvolvimento urbano no PNG, Thais Glowacki, as construções envolveram 250 pessoas das comunidades, das quais 108 mulheres nas funções de pedreiras e ajudantes de carpinteiro e nove como técnicas de construção e mobilizadoras.

A inclusão de mulheres em actividades como a de construção de escolas é a primeira a registar-se na Zona de Desenvolvimento Sustentável do PNG. Pretendia-se, com esta estratégia, incutir nos homens e mulheres a ideia de igualdade de género, mesmo nas obras. Hoje, as mulheres e jovens saíram com noções de como intervir nas construções em comunidades ciclicamente afectadas por ciclones.

Os envolvidos nas obras de construção também tinham equipamentos (fardamentos) e recebiam subsídios como qualquer contratado nas obras de construção.

Antes das construções, o Projecto de Restauração da Gorongosa, a UN-Habitat e parceiros implementadores como OIKOS e AVSI (ONGS com experiência em construção civil envolvendo as comunidades colheram opiniões. Mesmo depois de entregar as infra-estruturas, de novo fizeram a monitoria com as comunidades. Uma melhor maneira de perceber o antes e depois para as próximas intervenções estratégicas, desde o planeamento ao sucesso planificado. Este processo aconteceu em todas as escolas construídas.

Na sexta-feira (25.09), de todos os seis distritos, Nhamatanda foi anfitriã ao marcar o fim dessas actividades que iniciaram em 2021 (planificação, consulta com o Governo, selecção de escolas prioritárias, desenho do projecto, operacionalização e entrega), culminando com a entrega de certificados de participação às pessoas das comunidades que participaram nas construções.

Esta entrega não apenas dá importância às comunidades na participação activa, mas também o respeito mútuo na partilha de conhecimentos locais e técnicos.

 

O caso de Nhamatanda

Na manhã da última sexta-feira, todos os parceiros envolvidos nas construções das 26 escolas na Zona de Desenvolvimento Sustentável da Gorongosa, e comunidades estiveram em posição de mesa-redonda, incluindo pais e encarregados de educação também envolvidos nas construções e os respectivos alunos beneficiários.

Houve a entrega de certificados aos artesãos que participaram nas construções, colectar dados dos beneficiários, desde professores, directores das escolas aos alunos, dando-lhes voz como foi a implementação desse projecto.

Segundo Thais Glowacki, “sempre há uma maneira de fazer melhor que antes”, por isso, “essa colecta de dados vai nos ajudar a criar evidências [e] ao mesmo tempo, compensar em como fazer melhor” nas próximas intervenções.

Naquele dia, a Escola Básica de Mutundo e Armando Guebuza, dentro da localidade de Bebedo, em Nhamatanda juntou as comunidades locais, e as da vizinha localidade de Nhampoca, como Mutamba, Nhaminimine, Chiguideia, Momba e Dutuma. Não era apenas celebração por terem escolas, mas também uma maneira de partilha de histórias entre os implementadores do Projecto e as comunidades sobre os resultados alcançados em todo o processo das obras.

Na ocasião, os participantes partilharam as experiências, desde como era nas construções e melhores maneiras de preservar as escolas e as respectivas carteiras.

As comunidades, por exemplo, sugerem para uma vigilância das escolas em coordenação com a liderança comunitária, de modo a não destruir as paredes, carteiras ou mesmo não quebrar os vidros das janelas do único edifício com este material naquela comunidade, portanto, infra-estrutura de destaque localmente.

Contudo, o Projecto de 26 escolas já evidencia, três aspectos fundamentais desse projecto, do antes e depois da sua implementação, nomeadamente:

Primeiro, o número de escolas que estão a ser construídas na Zona de Desenvolvimento Sustentável do PNG, que funcionam como refúgios seguros (melhores ambientes educacionais mesmo em tempos extremos de mudanças climáticas, o caso de habituais ciclones);

Segundo, a valorização da contribuição e da participação que os membros da comunidade tiveram (todos ganharam novas experiencias. Que sirvam de fonte conhecimento no tipo de construção com técnicas melhoradas e que haja melhoria para a construção de edifícios resilientes);

Terceiro, nunca tinha visto mulheres trabalhando em projectos de construção. Este Projecto trouxe esta oportunidade. Esta inclusão, no começo, parecia estranha, mas com o tempo, todos passarem a se orgulhar.

Já o técnico do Serviço Distrital de Educação, Juventude e Tecnologia (SDEJT) e ponto focal de construções e equipamento escolar em Nhamatanda, Aleixo Saíde João José, reconhece o “encontro promovido pelo PNG, como forma de trocar impressões em relação ao Projecto de construção de resiliência em material misto, avaliando desde a sua implementação, troca de experiências entre os envolvidos ao impacto para as comunidades”.

Aleixo José “tem uma visão positivista enquanto os parceiros vêem diminuir o encargo do Governo” – este que deve “proporcionar melhores condições no ensino-aprendizagem”, especificamente.

Agora, o Governo de Nhamatanda quer “perpetuar com a ideia de construção de escolas de construção mista, usando material resiliente”.

O técnico do SDEJT lembra o passado da Escola Básica de Mutondo. “Antes, os alunos estudavam em condições deploráveis. Tínhamos salas ao relento, além de alguns alpendres construídos pelas comunidades em colaboração com a escola, além do apoio do SDEJT em chapas para cobertura.

Já com as “novas obras, mudamos de cenário. As crianças passarão a estudar em salas condignas por cima de uma carteira. E isso traz mais conforto, mais conforto [e] abre mais a possibilidade de termos o aproveitamento pedagógico positivo”, louva o técnico do SDEJT –Nhamatanda, agradecendo pela resiliência das obras para abrigar também as comunidades em situações extremas.

Nhamatanda tem 130 estabelecimentos de ensino (ensino geral e técnicas). Quase “50 por cento” são de construções “condignas”, enquanto “as restantes são de construções mistas ou precárias”. (Muamine Benjamim).


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