O Governo do Distrito de Nhamatanda convidou o Parque Nacional da Gorongosa (PNG), chefe dos postos administrativos de Tica e Nhamatanda sede, chefes das localidades de Siluvo, Bebedo, Nhampoca, Matenga e Metuchira, chefe do Departamento do Serviço Provincial de Ambiente (SPA), Agência Nacional para o Controlo da Qualidade Ambiental (AQUA, IP), e líderes comunitários, além de líderes religiosos para juntos reflectirem relativamente às preocupações sobre a actuação dos fiscais do Parque durante as suas actividades nas comunidades; prática agrícola nas margens dos rios, que contribui para a atracção de animais para a Zona Tampão; ocorrência de caça furtiva por membros das comunidades; e incidência de conflito Homem-Fauna Bravia, afectando a segurança e os meios de subsistência das famílias.
Trata-se de uma reunião distrital, incluindo representantes da Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC), disse o administrador de Nhamatanda, Manuel Teixeira.
Segundo o administrador, pretendia-se com vários intervenientes, “discutir em conjunto os problemas de ataques constantes de animais a pessoas que algumas vezes resultam em morte, também de invasão constantes dos animais às machambas da população. E encontrar formas de como mitigar este conflito Homem-Fauna Bravia”.
A reunião da passada quarta-feira (03,12), juntou 41 participantes, partilhando experiências colaborativas, intervenções de fiscais, boas práticas para a conservação e benefícios directos e indirectos comunitárias resultantes da inclusão local em projectos integrados da Gorongosa.
Na reunião, os representantes das comunidades, partilharam experiências colaborativas, mas também admiráveis, como alguns fiscais que vasculham até panelas, suspeitando que as comunidades estejam a consumir carne dos animais conservados no Parque (contra a caça furtiva). E do outro lado, os próprios fiscais enfrentam ameaças – o caso recente (2024) aponta a morte de dois em Mueredzi – Muanza por furtivos.
“Ficou claro que quando há invasão dos animais, destruição ou morte, devemos colher evidências no terreno pontualmente (fotos, áudios) e mandar para aqueles que têm poder de decisão para responsabilizar as partes”, apelou o administrador do distrito de Nhamatanda, Manuel Teixeira, em entrevista depois da reunião.
Na ocasião, foram apresentadas as acções em curso nas comunidades implementadas como forma de minimizar o conflito Homem–Fauna Bravia. Estas iniciativas abrangem desde medidas preventivas e reactivas a acções de desenvolvimento comunitário, incluindo a construção de infra-estruturas que facilitam o acesso a serviços básicos, bem como iniciativas de negócios como alternativas às práticas ilegais. Recentemente, o PNG entregou 26 escolas aos seis distritos que fazem parte da sua Zona de Desenvolvimento Sustentável, incluindo Nhamatanda.
“É um encontro que penso ser de aconselhamento. Gostei porque [os participantes] não só estavam a apontar problemas na comunidade, como também apontaram problemas no Parque, quando reconheceram que temos os nossos membros na comunidade que têm ido ao interior do Parque para caça furtiva”, descreveu o administrador do PNG, Pedro Muagura.
“Se se recorda na pessoa do administrador do distrito disse ter sobrevoado o Parque e notou que havia pessoas que até fugiam do interior do Parque para as comunidades – caçadores furtivos”.
“É um encontro para a nossa consideração de todos os problemas levantados. O conflito é uma realidade não só no PNG, como também noutras regiões de conservação”, avaliou Pedro Muagura, apelando para a “máxima comunicação. Quando não há boa comunicação, inventam-se elefantes brancos” nas comunidades.
O líder do segundo escalão da localidade de Matenga, Alberto Sabonete sugere “uma vedação ou translocação dos animais”.
Para Alberto Sabonete, abater animais não pode ser algo normal.
O Governo tem que fazer esforço para informar ao Parque (diálogo) na garantia de vedação.
“A comunidade necessita de ajuda do Governo. Quando o Governo não repara, a comunidade fica sem acolhimento”, disse o líder, reconhecendo que o Parque é de moçambicanos, mas que está a ser restaurado por uma Organização Não-Governamental – o Projecto de Restauração da Gorongosa, através da Fundação Greg Carr.
Acções de mitigação
Contra todo o mal para ambas partes, foram definidas acções concretas a serem realizadas a curto e longo prazo como:
Reforçar a capacitação dos membros das comunidades em matérias de gestão e mitigação de conflitos Homem–Fauna Bravia, promovendo conhecimentos e práticas adequadas de prevenção;
Reduzir a presença de animais problemáticos nas comunidades, através do abate controlado ou translocação para outras áreas de conservação, sempre em coordenação com as autoridades competentes;
Melhorar os canais de comunicação entre todas as partes envolvidas — Governo Distrital, Parque Nacional da Gorongosa e comunidades, garantindo fluxo rápido e eficaz de informação sobre incidentes e medidas de resposta;
Estabelecer sistemas de vedação e /disponibilização de foguetes para protecção das áreas de conservação ou das machambas, visando reduzir a entrada de fauna bravia em zonas agrícolas;
Aumentar o número de fiscais de afugentamento destacados pelas comunidades reforçando a capacidade de resposta imediata aos incidentes com fauna bravia:
Utilizar meios de mobilização alternativos aos furtivos, respeitando a vida das pessoas e assegurando os direitos humanos fundamentais;
Disponibilizar ou alocar ao distrito meio de transporte para responder a casos de emergência envolvendo pessoas afectadas por incidentes com elefantes;
Melhorar a distribuição dos fiscais do Parque Nacional da Gorongosa, de forma a responder às necessidades imediatas das comunidades e criar uma brigada de emergência a ser instalada em pontos estratégicos;
Realizar as cerimónias tradicionais envolvendo os líderes comunitários;
Realizar encontros de auscultação e coordenação com os líderes comunitários;
Partilhar informações em tempo real sobre incidentes, utilizando evidências documentadas por meios audiovisuais e sistemas de monitoria;
Criar brigadas de resposta rápida para actuação imediata em casos de conflito;
Realizar encontros imediatos entre o Serviço Distrital de Actividades Económicas (SDAE) e o PNG para tratar de questões relacionadas aos limites da área de produção agrícola em Mucharuenhe na localidade de Nhampoca.
O próximo encontro do género está marcado para abril de 2026. (Luísa Franque)
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