Sustenta: Promessa vazia

Por Júnior Rafael

Disseram-nos que o Sustenta era o novo milagre agrícola. Que viria irrigar os campos, encher os celeiros e alimentar as bocas vazias. Disseram-nos que traria três refeições por dia para cada moçambicano — não de promessa, mas de prática. Disseram-nos que era o futuro, a salvação, o renascimento rural. Hoje, passados anos e milhões, só resta a pergunta: onde está o dinheiro do Sustenta?

Sustentou o quê, afinal? As comunidades camponesas continuam com enxadas enferrujadas, sementes escassas, transporte precário e mercados fantasmas. As bocas continuam vazias, os pratos continuam rasos, e as três refeições continuam no papel — talvez em PowerPoints de consultores bem pagos. Será que o Sustenta sustentou apenas os bolsos de quem dele se alimentou?

Há indícios de contractos sem transparência, de beneficiários-fantasmas, de tractores que nunca chegaram ao campo e de dirigentes que enriqueceram como quem cultiva semeando vento e colhendo notas. Os “projectos” foram, muitos, pretextos. E o povo, mais uma vez, ficou a ver navios — ou melhor, tractores imaginários.

E onde está a Procuradoria-Geral da República? Onde estão as auditorias? Onde estão os interrogatórios televisivos, os comunicados oficiais, os acertos de contas? Quando é o pobre a furtar uma galinha, não falta justiça. Mas quando é o Estado a desaparecer com milhões, só o silêncio é visível.

Quem deve desvendar esse segredo? A sociedade civil? Os jornalistas sufocados pela censura? Os activistas perseguidos como criminosos? Ou continuaremos todos à espera de uma justiça que nunca se apressa quando os suspeitos usam gravata?

O Sustenta não sustentou nada. Foi mais um programa com nome bonito e resultados invisíveis. E como sempre, sustentou a mentira, o teatro do desenvolvimento, a encenação da boa governação. Porque, na prática, o povo continua a jejuar — não por fé, mas por fome.

Enquanto isso, fica a lição amarga: em Moçambique, até o que deveria sustentar vira susto. E a pergunta continua ecoando nos campos secos: onde está o dinheiro do Sustenta?

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