Comunicar para Mudança

BEIRA-MACHIPANDA: Cancelados todos comboios de passageiros

Estão cancelados desde última terça-feira (10.12.) todos os comboios de passageiros, incluindo locomotivas (Beira – Chimoio e Beira – Machipanda). A empresa Caminhos de Ferro alega motivos operacionais e não garantem o dia de reabertura da Linha.

O “Profundus” sabe que um grupo de trabalhadores dos Caminhos de Ferro de Moçambique – Centro (CFM), removeu, na terça-feira (3.12), uma secção da linha férrea Beira – Machipanda, impedindo a ligação ao Zimbabwe.

Os trabalhadores exigem condições de trabalho e contractos efectivos da empresa, alegando promessas feitas pela empresa aquando do arranque das obras de requalificação da linha.

A rota é crucial para as importações e exportações dos países africanos do interior, que dependem do porto moçambicano da Beira.

A secção de cerca de três metros de comprimento foi removida na estação ferroviária de Gondola, na província de Manica, onde o grupo esteve amotinado, no início da manhã para se queixar das condições precárias de trabalho na linha de Machipanda, inaugurada há um ano. No mesmo dia, o CFM emitiu um comunicado a reconhecer o corte da linha.

“Os CFM lamentam profundamente a atitude dos concidadãos que “destroem” aquilo que ajudaram a construir só porque entendem que devem ser vinculados para o quadro efectivo ou serem pagos uma indemnização pelo tempo que estiveram a laborar na BRLM”.

No comunicado, o CFM referiu que aquele grupo de trabalhadores foi contemplado no Projecto findo, em dezembro de 2023, o vínculo com a BRLM, concluído o Projecto e a linha de Machipanda inaugurada e estando em funcionamento.
Os CFM reiteraram a disponibilidade de voltar a esclarecer sobre o âmbito do vínculo que aquele grupo de trabalhadores tinha com a BRLM. Sete dias depois do corte da Linha, a empresa emitiu outro comunicado de cancelamento da rota Beira-Machipanda.

 

Duas décadas sem operação, retomada em 2023 mas cancelada em 2024

Caminho de Ferro de Machipanda (CFM), também chamado de Caminho de Ferro Beira-Bulavaio e Caminho de Ferro Beira-Harare-Bulavaio, é uma ferrovia que liga a cidade de Beira, em Moçambique, à cidade de Bulavaio, no Zimbábue. Possui 850 quilómetros de extensão, em bitola de 1067 mm.

No trecho moçambicano, entre Beira e Machipanda, a empresa administradora é a Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM); já no trecho zimbabuano, entre a cidade e de Mutare e a de Bulavaio, a administração é feita pela empresa Ferrovias Nacionais do Zimbábue (National Railways of Zimbabwe-NRZ).

Originalmente, o Caminho de Ferro de Machipanda deveria estabelecer uma conexão ferroviária entre Harare e Beira, de acordo com o entendimento celebrado, na década de 1870, entre a África Ocidental Portuguesa e Regência da Companhia Britânica da África do Sul na Rodésia.

Porém, por dificuldades financeiras do lado português, a construção do primeiro trecho do Caminho de Ferro de Machipanda começou somente em 1892; a infraestrutura, em bitola estreita de 610 mm, conectou, já em 4 de fevereiro de 1898, Beira à cidade fronteiriça Mutare, no Zimbábue, percorrendo 357 quilómetros.

Em 1898, foi aberta uma linha de bitola de 1.067 mm de Harare para Mutare, com subsequente conversão do trecho de bitola estreita de 610 mm de conexão para a Beira em 1900.

Ainda na década de 1890 começaram os trabalhos de extensão do projeto original, partindo de Bulavaio, no Zimbábue, para construir uma ferrovia de 1.067 mm para o norte, até Harare, concluída definitivamente em 1899. Após a conversão de Mutare (1067 mm) e Machipanda (610 mm), a linha conectou finalmente Bulavaio, Guelo, Harare, Mutare, ManicaChimoioDondo e Beira.

As locomotivas de bitola estreita de 610 mm foram posteriormente adquiridas das Ferrovias da África do Sul sendo designadas “classe SAR NG6”.

Posteriormente o trecho entre Machipanda e Beira adequou-se ao padrão zimbabuano, sendo totalmente convertido para 1.067 mm, eliminando a necessidade da conversão de Mutare-Machipanda.

Em 2005, o troço da linha entre as cidades da Beira e Machipanda (o único que os CFM denominam como Linha de Machipanda) foi concedido para a empresa privada indo-moçambicana “Companhia Caminhos de Ferro da Beira” (CCFB; denominada em inglês: Beira Railroad Corporation). A reconstrução da ferrovia foi iniciada, mas a empresa não conseguiu cumprir com as obrigações contratuais. O troço moçambicano da linha foi renacionalizado em 2011, sendo reassumido pela estatal CFM.

Em 23 de novembro de 2023, o troço foi reaberto à circulação depois de um encerramento de duas décadas (o último comboio de passageiros circulou em 1997). As obras de reabilitação decorreram de agosto de 2019 a novembro de 2023 e já estavam a permitir a redução do tempo de viagem, garantir a segurança e aumento da tonelagem de carga transportada. (Muamine Benjamim).

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