Comunicar para Mudança

Canda: Do início ao produto final em mudanças climáticas

Reflorestamento é uma palavra simples de ler, mas é um processo difícil e complexo por concretizar, envolvendo custos contra a degradação ambiental, período específico a cada actividade, maneio, monitoria e pessoal. O Parque Nacional da Gorongosa é uma referência em África pela sua história impressionante de restauração ambiental, conciliando-se com o desenvolvimento humano e servindo de exemplo neste caso por envolver as comunidades rurais como actores da Conservação.

Processo de reflorestar

O processo de reflorestamento começa com a colheita de semente (janeiro – dezembro), identificação das áreas para o viveiro, enchimento de vasos e sementeira (fevereiro – setembro), rega, repicagem (maio – outubro, monda (janeiro – dezembro), poda das raízes (maio – setembro); preparação e plantação: identificação das áreas para plantações (abril – setembro, delimitação das áreas (julho a setembro), demarcação (outubro – novembro), limpeza das áreas (novembro – dezembro), distribuição de mudas (novembro – dezembro), abertura de covas, plantio e replantio – janeiro –março dezembro; manutenção (dezembro): delimitação de quebra-fogos (abril-junho), estabelecimento de quebra-fogos, manutenção de quebra-fogos (até o quinto ano) (abril-julho), queimada fria fora da zona de reflorestamento (até quinto ano) (abril – maio); queimada fria na zona de reflorestamento (após o quinto ano) (abril – maio); remoção de capim em volta da planta (até terceiro ano) (abril – junho); monitoria: verificação da sobrevivência e verificação do crescimento (março-outubro); factores condicionadores: precipitação média e incidência de fogo.

De concreto, o reflorestamento pela Gorongosa conta com as comunidades que se organizam em Comités de Gestão de Recursos Naturais.

Bem próxima à Serra da Gorongosa, existe o Comité de Gestão de Recursos Naturais, no Posto Administrativo de Nhamadzi – Canda, uma referência pelo reflorestamento. Criado em 1998, conta com 233 membros, fundadores; fiscais comunitários; animadores e facilitadores de reflorestamento dos viveiros, aliás, o CGRNC criou 11 subcomités com 771 membros (303 mulheres) e 68 guardas-florestais.

O reflorestamento, segundo o Comité de Gestão de Recursos Naturais de Canda, Amélia Melo, conta com actividades de colecta de sementes de espécies vulgares Chanfuta (Afzelia Quanzensis), Panga-Panga (Milletia Stuhulmanii); Umbila (Pterocarpus Angolensis); Umbaua (Khaya Anthotheca); Bauhinia (Bauhinia Thonningii); Thiti (Erythrina Lisystemon); Parinari Curatellifolia; Albizia (Albizia Adianthifollia); Vangueria (Vitex Adoniana); Imbondeiro (Adansonia Digitada); Ximenia Cafra; Messassa (Brachystegia Africana); Mafureira (Trechilia Emetica); Amarula (Sclerocarya Bireea) e Massala (Strychnos Spinosa).

O CGRNC tem o objectivo de fiscalizar ao nível dos regulados; estabelecer treinos aos fiscais comunitários e equipá-los; promover turismo comunitário como fonte de renda para apoiar as comunidades que residem ao longo da Serra da Gorongosa; sinalizar locais de coexistência entre o Homem-Fauna bravia e instalar placas de sensibilização nas picadas e em locais de aglomeração de pessoas, além de fomentar projectos de desenvolvimento comunitário como de apicultura moderna para reduzir as queimadas.

O Comité de Gestão de Recursos Naturais de Canda estabeleceu um viveiro em 2020, cuja capacidade é de 25 mil mudas. As espécies existentes ao momento são Umbaua, Messassa e Panga-panga, com 15 (9 homens jovens e 6 mulheres jovens) assumindo o papel de facilitadores comunitários numa área de 10 hectares de áreas reflorestadas, 11.000 mudas plantadas e 7.000 mudas prontas para plantio.

 

Resultados do reflorestamento intensificado

O Parque Nacional da Gorongosa intensificou as campanhas de sensibilização para “Salvar a Serra”. O número de abrangidos resultou na redução de caça furtiva, aumento do reflorestamento, comunidades conscientes sobre a Conservação e transformadas pelos projectos de desenvolvimento humano, não apenas no Posto Administrativo de Nhamadzi-Canda, mas também nos distritos limítrofes daquela conservadora ambiental.

De 2021 a 2024, a diminuição foi tão significativa que chegou a ter zero em alguns casos, como resultado de sensibilizações comunitárias de animadores no Posto Administrativo de Nhamadzi- Canda.

Os resultados são medidos pelos indicadores registados nas comunidades. As sensibilizações comunitárias reduziram a caça furtiva.

Em (2021), no início das actividades, registaram 92 artes de caça, reduzindo para 60 (2022); 37 (2023) e 13 (2024).

De forma específica, a partir de 2021, reduziram as armadilhas mecânicas, de 11 para 9 (2022), 7 (2023) e 5 (2024); de 8 ratoeiras diminuíram para 7,4 e 2; de 12 redes de pesca subtraíram para 9, 6 e 3; de 11 pás para 8, 5 e 2; de 9 cerras de madeira para 7, 4 e 1; de 6 cabos de aço para 3,1 e zero; e de 35 pranchas de madeira para 17, 10 e zero, correspondentemente.

Estas apreensões resultaram do aumento de membros sensibilizados nas comunidades por ano. Ora, em 2021, foram realizadas 600 palestras por 15 animadores alcançando 1.867 homens e 1.344 mulheres; 2022, com o mesmo número de animadores e palestras alcançaram 2.141 homens e 1.786 mulheres; 2023, repetiram-se os animadores e palestras abrangendo 2.264 homens e 1.821 mulheres, e já em 2024, o número de animadores aumentou para 55 e 2.200 palestras alcançando 28.359 homens e 19.625 mulheres.

Lembre-se que em 2024, a Gorongosa entregou 47 bicicletas a facilitadores comunitários, 40 bicicletas a animadores comunitários e 15 motorizadas a líderes comunitários de Canda, no lançamento da campanha “Salve a Serra da Gorongosa”. Um investimento de 1.308.000,00 MT.

As comunidades da Zona Tampão do Parque Nacional da Gorongosa, através dos respectivos Comités de Gestão de Recursos Naturais, também recebem os 20 por cento das Receitas de Exploração Florestal e Faunística da Gorongosa previstos pela Lei 16/2004 de 20 de Junho.

A Zona Tampão do Parque Nacional da Gorongosa é reconhecida nos programas do Parque como Zona de Desenvolvimento Sustentável.

A entrega recente dos 20 por cento aconteceu no dia 20 de novembro de 2023, na qual oito Comités de Gestão de Recursos Naturais receberam 730.220,54 meticais, representando os 16 Comités previstos naquela fase. Especificamente, cada comunidade recebeu 45.688,78 meticais, nomeadamente, Nhabaua, Catemo, Muanandimai (Cheringoma); Nguinha e Nhantadza (Muanza); Djutchenje (Gorongosa); Nhamacolomo (Maringué); e Bebedo (Nhamatanda). Este dinheiro tem sido usado para projectos comunitários.

“Agora não há muito desmatamento”

Na Serra da Gorongosa, “havia muito desmatamento, mas hoje, graças” aos fiscais e ao Comité, as comunidades já estão cientes de não cortar as árvores, até mesmo [contra] a caça dos animais. Significa que a população já sabe [porque deve conservar]”, descreve o substituto-chefe do Posto Administrativo de Canda, António Tomás Vernijo, apontando as sombras das plantas onde decorrem as reuniões como impacto da Conservação.

As comunidades também reflorestam as áreas degradadas. Nos últimos dois anos, produziram 13 mil mudas e plantaram-as em 12 hectares, para além da realização do maneio de regeneração em 3,7 hectares de zonas de Domba, Magala, Nhandar e Canda. Já para 2025, a produção deverá ser de 17.500 mudas para plantar pelo menos 8.000 numa área de 6 hectares.

“Havia muito desmatamento, mas agora não há” é o trabalho coordenado pela Gorongosa.

O líder comunitário de Domba em Canda, João Juvêncio Paulo, também descreve o impacto da Conservação, envolvendo a sua comunidade. Neste momento, colhe as sementes enquanto planta as mudas em coordenação com o Comité de Gestão de Recursos Naturais.

Neste momento, existem 9.500 mudas no viveiro de Canda subdivididas em espécies como Umbaua (khaya anthotheca) 4.600; Messassa (brachystegia spiciformis) 2.000; Panga-Panga (milletia stuhulmanii) 1.700 e Munherenje (albiziaa adhiantfoliia) 1.200.

Este ano, em Nhamadzi, haverá reflorestamento das zonas degradas da comunidade e Serra da Gorongosa cuja meta é de 25 mil mudas a serem plantadas pelo comité de Gestão de Recursos Naturais;

Fiscalizar as actividades ilegais ao nível dos povoados, envolvendo 100 fiscalizações pelos fiscais comunitários;

Definir e introduzir regras e procedimentos para o uso sustentável (extracção máxima permitida, taxa a pagar e penalizações) num regulado envolvendo membros do Comité para o sustento das comunidades;

Realizar 240 sensibilizações para minimizar o cultivo nas margens dos rios, queimadas descontroladas e desmatamento;

Treinar cinco animadores comunitários; instalar 50 placas de sensibilização nos locais de aglomeração de pessoas.

Viveiro de Canda

Actividades integradas da Gorongosa em mudanças climáticas

O reflorestamento pela Gorongosa não apenas restaura a biodiversidade local, mas também contribui para a regulação do clima, a conservação do solo, a protecção dos recursos hídricos e a promoção de ‘habitats’ saudáveis para a fauna, garantindo a produção agrícola em momentos de insegurança alimentar motivada pelo fenómeno El Niño.

Sendo a Gorongosa, o Parque que concilia o desenvolvimento humano, o reflorestamento também integra treinos em programas da saúde, agricultura, construção de infra-estruturas para a resiliência das comunidades.

 

Por que o nome de Nhamadzi – Canda?

Eugénio Almeda Canda-chefe de Canda, contou que um dia, um homem de nome Nhamadzi morreu. Quando os seus filhos regressaram ao fim de três dias, não encontraram o corpo. Em vez disso, encontraram a cobertura de pele no solo, mas não a saca. Assim, os filhos disseram a toda a gente que eles tinham decidido ir procurar a saca. Partiram e em breve viram a saca rolar pela ribanceira abaixo. Em uma semana, seguiram as marcas deixadas na relva. No caminho, encontraram um elefante morto e decidiram servir-se da carne, cortando-a com a pele. Fizeram assim para que a carne não se estragasse. Esta é a origem da família “Canda”, o que significa “pele”.

Continuaram a caminhar, comendo a carne de elefante e seguindo a saca de pele, até que chegaram a um rio. A saca de pele saltou o rio cheio de água. Mas quando os filhos chegaram, descobriram que o rio tinha se separado. Alguma água estava num lado, alguma noutro, e havia um caminho seco no meio: e assim, eles atravessaram.

Quando a saca com o corpo chegou a esta área, transformou-se num leão. O leão viveu na montanha que chamamos Nhamadzi. Há uma rocha grande lá. Nhamadzi, o leão, costumava estar nessa rocha numa caverna onde teve crias. Quando os leões selvagens quisessem matar alguém, Nhamadzi protegia o seu povo, afastando os outros para longe. (Muamine Benjamim – Canda).

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