Comunicar para Mudança

Nhamatanda: Procura de salvação espiritual ou negócio em nome de Deus?

Em Moçambique, se a intenção é ao menos registar as igrejas, muitas ainda são ilegais e “vendem” milagres a preços exorbitantes para os mais carenciados. É uma realidade típica de Nhamatanda, província de Sofala.

O conflito no norte do país tem também ligações com a religião. A proliferação das igrejas em Moçambique é uma questão que tem vindo a ganhar espaço na sociedade, cujo fim não se advinha para breve, aliás, o país é laico, porém a grande preocupação do momento está na violência, supostamente, em nome de Deus.

Nos bairros, em cada quarteirão é possível encontrar uma ou mais igrejas e, estranhamente, número insignificante de vizinhos rezam ali, os restantes vão noutras distantes.

Enquanto nas cidades, são os centros de diversão pública, nomeadamente, cinemas e teatros que vão sendo transformados em centros de culto.

Algumas igrejas provavelmente são espirituais malignamente, outras até confusas para o materialismo económico, mas antes apresentadas com projectos em nome de espírito santo para o bem comum. Aliás, algumas diferentes pelo nome, no fundo são iguais, e com a proliferação, se tem facilmente a confusão de se saber em qual delas confiar.

Maioritariamente, as igrejas de Nhamatanda são representações, em que certos pastores, além de outras actividades, devem fotografar os cultos – forma de “contagem de enchente”. Isso motiva o apoio do responsável não residente localmente, alguns até estão noutros países.

A equipa do “Profundus” já participou cultos de diversas igrejas, as quais diferem. Para algumas, basta ter aparelhagem não interessam as condições do lugar para o adorar a Deus, outras já condicionadas até com álcool e gel, outras ainda em construção de uma residência, a sala já é a “casa do Senhor”.

As que se sentem sem condições justificam “que tudo começa assim, havemos de evoluir”. Pata tal, “irmãos, temos que fortificar o dízimo e oferta, havemos de construir uma que Nhamatanda vai render”. Em algumas igrejas, os “dizimistas” já são visivelmente conhecidos, um dia sem a tal “responsabilidade” se sentem estranhos.

“Quem não trouxe oferta deve sair”, dizia um “irmão” ao microfone de uma igreja, para depois justificar que apenas estava a experimentar o equipamento – o habitual “microfone experiência” nos cultos que envolve aparelhagem. A comunicação seguiu-se de risos, mas a informação chegou. E este tipo de discurso é perceptível no fim das missas, no tempo de informações diversas e ofertas. Os momentos ou cargos mais cobiçados são de tesouraria.

Varandas, cabanas, salas ou até o pátio de casa são improvisados a modo igreja. São “hospitais”, onde já fazem operações cirúrgicas de milagre. Milagre à venda por 1 litro de água mineral entre 250- 300 meticais, roupa intima entre 750 e 1000 meticais. “Comprei uma garrafa de água”, mas continuo doente. Está a me dar outras orientações, afinal não basta comprar e medicar? Questiona-se sem saber a próxima orientação, “não sei dessa vez o que vai-me dizer”, contou Mariana M, nome fictício para preservar a identidade.

Em conversa com jornalista. “Dão-te orientações e coisas esquisitas”. Mesmo com as coisas que dizes serem esquisitas, por que continuas naquela igreja? Continuo lá porque não quero dar motivos. Estou a seguir aquilo que me dizem, para não dizerem que abandonei medicação”. Então confirma que a igreja dá medicação sem receita? “Não encontro outra explicação, às vezes faz-nos usar coisas”, hesitou especificar.

Quem também mostra-se inquieto é Pedro P. “Há tantos que agora estudam com uma mente apenas para ser pastor e criar uma igreja, só para comer”. A consequência disso “é ganância a ser alastrada aos possíveis crentes”. Isso piora porque a obrigação de legalizar as igrejas não está a ser levada a sério. Qualquer pessoa pode ser pastora e criar igreja sem papel legal onde quiser e como quiser, basta ter amigos confiantes que vão-lhe apoiar“.

“Há tanta falsidade que já motiva os vizinhos rezarem noutra igreja distinta”, revelou o motivo de poucos vizinhos das igrejas rezarem noutras.

O continente africano é invadido por movimentos religiosos que exploram comunidades pobres e sem esperança, através de promessas de um futuro risonho. A proliferação de seitas de certa forma é uma ameaça. A proliferação de seitas faz pairar uma ameaça. Por exemplo, o movimento de rebelião mais activo na Uganda, converteu-se numa espécie de “messianismo armado com a cruz lançada pela líder Alice Lakwera, conhecida como a “mensageira”. O respectivo “Movimento do Espírito Santo” misturava cristandade e crenças tradicionais e, mais tarde militarmente em 1986 ameaçava o poder presidencial.

Já em Moçambique, em certas mesquitas em Cabo Delgado, antes de 2017, já se falava de condutas estranhas de visitantes. E hoje, a zona resume-se no extremismo, supostamente em nome de Allah.

 

Exortação do Governo de Sofala

No país, a obrigatoriedade de registar e regular as igrejas ainda é um dilema. Especificamente, em Nhamatanda, nas visitas de julho de 2022, o governador de Sofala, Lourenço Bulha, exortou a população de Nhamatanda a registar as respectivas igrejas. E chegou de mostrar disponibilidade através do respectivo Departamento Jurídico para ajuda sobre legislação.

Moçambique possui mais igrejas ou mesquitas do que indústrias que colmatam o desemprego; possui tecnologias do progresso substituídas por seitas. E a interpretação das seitas ganha mais destaque, a reclamação de desemprego apenas para quem sabe escrevinhar, por isso, até aos 40 anos, nota-se maior dedicação a religião que na juventude – como de quem não teve oportunidade de não pensar apenas na futura “salvação”.

Na proliferação de seitas, os pastores assumem o papel de professores e que influenciam as massas, mas com requisitos subentendidos, pelo menos ao nível científico. Uns falam de “chamado espiritual” para ser homem de Deus, enquanto uns acordaram no espírito para tornarem-se pastores e outros alegam ter a formação no vizinho Zimbabué por exemplo. Consequentemente, alguns discordam com a ideia de usar vacinas ou remédios oficializados, supostamente por serem coisas do diabo, quando na verdade outros morrem temendo a imunização. (Muamine Benjamim).

Fique atento

Subscreva a nossa newsletter para ficar a par das últimas novidades