Nhamatanda progride na Conservação em momentos de mudanças climáticas

Em Nhamatanda, a perda de áreas florestais mantém-se, o que é típico de regiões pouco desenvolvidas onde há uma forte dependência de produtos florestais e a tecnologia agrícola rudimentar só pode ser compensada pelo aumento das áreas de cultivo para suprir as necessidades alimentares. Mas o executivo local avalia avanços significativos contando com parceiros de Conservação como o destaque do Parque Nacional da Gorongosa e Livaningo.

As razões do desmatamento e da degradação florestal observada no país são a grande demanda por recursos florestais, às necessidades energéticas (energia de biomassa), a conversão de áreas florestais em campos agrícolas e as queimadas descontroladas.

Conforme o relatório do estudo de desmatamento em Moçambique, a taxa estimada de desmatamento por ano no país é de 0,79% da cobertura florestal (equivalente a 267.029 hectares de florestas por ano). (FNDS, 2019).

As áreas de conservação (parques nacionais, reservas florestais, coutadas de caça e fazendas do bravio), com enorme importância na protecção de ecossistemas e as suas funções, incluindo o sequestro de carbono, a produção de renda local e com significante valor ecoturístico, também não são alheias ao desmatamento e degradação florestal, por razões como o cultivo de culturas agrícolas não planificadas, caça furtiva, corte ilegal de madeiras, entre outras.

O consumo de combustíveis lenhosos (lenha e carvão) foi estimado em cerca de 9,3 e 5,5 milhões de toneladas por ano, nas zonas rural e urbana, respectivamente (Sitoe, Salomão, & Wertz-Kanounnikoff, 2012). Este valor supera o volume legal de corte anual para madeiras comerciais, estimado em cerca de 450 mil metros cúbicos. Em paralelo, a produção de carvão vegetal tem sido referida como uma das principais causas do desmatamento em Moçambique e na África Subsaariana em geral (Sitoe, Salomão, & Wertz-Kanounnikoff, 2012).

 

Nhamatanda, caso específico

Nhamatanda, como outros distritos moçambicanos, vem sofrendo de desflorestamento. As actividades nocivas ao meio ambiente incluem o abate indiscriminado de árvores tanto para a produção de carvão vegetal quanto para a indústria madeireira ou mesmo construção de residências.

Num estudo conduzido pelo Instituto de Investigação Agrária de Chimoio em 2021 indica que o posto Administrativo de Nhamatanda em termos de desmatamento perdeu, só em 2019, cerca de 13.38ha, sendo uma realidade que se tem verificado por muitas comunidades daquele distrito.

Os dados da “Transição florestal: Estudo socioeconómico do desmatamento em Nhamatanda” mantém-se interessante pela descrição da situação do distrito, na Conservação, depois do ciclone Idai (2019) e Chalane (2021).

No distrito de Nhamatanda, a madeira (principalmente em forma de estacas) é usada na construção de habitações locais (juntamente do bambú e capim).

Em Nhamatanda, as árvores fornecem lenha e carvão vegetal, sendo ambos combustíveis vendidos e usados localmente ou transportados para outros centros urbanos no Corredor da Beira. Porém, devido a factores como o desmatamento e a erosão dos solos (assim como a vegetação tipicamente de planície no vale do rio Pungué), algumas comunidades percorrem distâncias entre 30 km a 40 km para encontrar a fonte de lenha mais próxima. E com acções focadas para a Conservação, o uso deste recurso passou a ser mais consciente.

O estudo envolve 266 inqueridos em Nhamatanda-sede, Metuchira e Lamego, zonas em que parcialmente a Gorongosa e totalmente a Livaningo actuam. Grande parte dos inquiridos são originalmente de Nhamatanda (55,1%), sendo outros oriundos de vários distritos (44,5%) e do Malawi (0,4%).

O estudo revela que em Nhamatanda, há mais casos de exploração florestal por imigrantes (33%) que por nativos (24%). Este é um sinal de que as sensibilizações para a Conservação estão a ter resultados pelo menos para os locais.

A invasão de animais aos campos de produção é um dos motivos para a perda de culturas antes da colheita pelas comunidades.

Entre os agregados familiares inquiridos, 61% usam sementes melhoradas, 42% usam pesticidas, 29% usam fertilizantes e 57% possuem celeiros. Isto mostra que certas precauções estão a ser tomadas pelos agregados familiares para produzir mais e conservar os seus produtos.

Cerca de 88% dos agregados familiares mencionaram não realizar queimadas para nenhum fim.

Deste modo, conclui-se que Nhamatanda não se encontra num processo de transição florestal, pelo menos no momento do estudo. Entretanto, de 2020 a esta parte, o executivo de Nhamatanda fala de avanços significativos.

 

Governo fala de mudança de mentalidade

“Todos nós temos a missão de reflectirmos para protecção da mesma floresta, melhorando os efeitos das mudanças climáticas”, exortou o secretário permanente de Nhamatanda, José Lopes, durante as comemorações do Dia Internacional das Florestas, 21 de Março, em representação do administrador do distrito.

Nos “últimos três anos, a manutenção das florestas tem melhorado”, avaliou José Lopes, especificando que “o abate de árvores está a diminuir, particularmente com essa coordenação com os nossos parceiros e a caça furtiva tende a diminuir”. Esta avaliação

Portanto, “podemos dizer que [os membros] da comunidade de Nhamatanda com base no trabalho de sensibilização, a sua mentalidade tende a mudar [positivamente] eles são os primeiros defensores contra os males” da floresta, conclui o Governo de Nhamatanda.

 

Parque Nacional da Gorongosa e Livaningo

Esta escolha de análise a estas duas ONGs, por “Profundus” é baseada pelo menos por serem duas Organizações Não-Governamentais, de Conservação mais publicitadas ou pelo menos abertas a imprensa, mas que as suas actuações não envolvem todas as localidades de Nhamatanda, por estratégia ou mesmo fundo, aliás algumas comunidades até recebem apoio duplo, enquanto outras zonas nem tanto.

O Parque Nacional da Gorongosa (PNG) envolve as localidades de Bebedo, Nhampoca e Matenga (Zona de Desenvolvimento Sustentável ou mesmo Zona Tampão). Enquanto Livaningo no projecto Kukwiza também implementa actividades similares nas mesmas zonas, além de Macorococho, Lamego, Metuchira e Chirassicua, portanto uma duplicação em algumas zonas, e particularmente, Siluvo com o projecto Cucoia iniciado em junho 2024.

O PNG é quase o dono da Conservação na sua Zona de Desenvolvimento Sustentavel (Nhamatanda, Gorongosa, Muanza, Maringue, Cheringoma e Dondo) apesar de não abranger todas as localidades, cujo objectivo é consciencializar os membros das comunidades para “fazerem com que percebam que os alimentos que tanto procuram a sua produção depende da existência da floresta. Dai optar por actividades que visam garantir o uso sustentável dos recursos naturais, deixando as actividades que prejudicam a floresta, tal é o caso de queimadas descontroladas, abate das árvores, optar o agroflorestamento, praticando agricultura e deixar árvores a servirem de estrume, garantindo maior produção das culturas”, explica  supervisor de Relações Comunitárias, Chico Júlio Fagema.

O PNG não apenas conserva, mas também motiva o desenvolvimento humano apoiando as iniciativas locais, por isso, Nhamatanda tem um exemplo concreto de lodge e apicultura na comunidade de Mucombezi, aliás, que recentemente recebeu 128.937,73 meticais, correspondentes a 20% das taxas de receitas turísticas de 2023-2024.

A Livaningo, através do técnico ambiental Osório Belchior avalia que “até ao momento, nos sentimos orgulhosos porque certas actividades não aconteciam nessas comunidades, por exemplo, uso massivo de fogões melhorados (fogão poupa-lenha ou poupa carvão) [incluindo treino sobre a produção usando material local e acessível] ”, além de que as comunidades já estão mais conscientes sobre as desvantagens de destruir o meio ambiente e “sentem a sua responsabilidade” de protegé-lo.

“No entanto, percebo a duplicação [de actividades] na zona tampão, mas é mais para ter os resultados de restauração florestal que é o foco. Estamos a enriquecer as florestas de maior dimensão e estas florestas só existem na zona tampão e um pouco em Macorococho”, justifica Osório Belchior.

“Nas outras localidades já não é para se restaurar enriquecendo um ecossistema, mas reflorestamento mesmo. Já não existem áreas para reflorestamento nessas localidades, quanto mais se disponibilizam no máximo dois hectares há grande esforço até causar conflitos. Tentamos isso em Lamego e Chirassicua, tudo foi por baixo. E também um ecossistema florestal não pode ser construído numa área de dois hectares porque só se pode considerar um ecossistema onde existem árvores e animais. É por isso que nessas outras localidades estamos a sensibilizar para o uso de fogões melhorados mais para minimizar a pressão sobre as pequenas matas que têm e reforçar a fiscalização de actividades nocivas ao meio ambiente”.

Com raras actividades de Conservação no “coração” de Siluvo e outra parte rica como a de Mafufo pelo ouro e peixe tirado todos os dias pela barragem nas águas do rio Muda que alimenta a açucareira de Mafambisse, o “coração” de Tica e a respectiva localidade de madeira (Chiadeia) com sérias dificuldades de policiamento e respectivo equipamento), abre uma “janela” de escape de recursos florestais pela sua geografia. Aliás, até mesmo na zona do Ramos, 9º bairro na Vila Municipal de Nhamatanda, de noite, passam camiões carregando madeira, alguma fresca ainda.

Siluvo tem fácil acesso à província de Manica ou mesmo o sul de Moçambique passando por atalhos, o que acontece com Chiadeia e Matenga, portanto, sul e norte de Nhamatanda, ainda dentro do distrito, conectando todo o país.

 

Da comunicação com as comunidades ao sucesso das actividades

Independentemente das políticas, financiamento ou natureza, as Organizações comunicam, por isso, precisam de uma estratégia, tanto interna quanto externamente. E isso vai reflectir na interacção com as comunidades e meta por atingir.

Por exemplo, as comunidades se identificam melhor quando um chefe respeita “as regras da casa”. Isso inclui o uso de línguas locais, saber agradecer em acções que aparentam simples, mostrar o gesto de provar aquilo que te servem. Assim concorres contra aquela “boca”, o chefe X ou projecto X, não tem interesse, nos despreza.

Os projectos devem adoptar linhas inteligentes de comunicação ao ponto de criar marca nas mentes das comunidades, para conseguirem separar um projecto do outro apesar de terem actividades semelhantes no mesmo lugar.

Reforçar a política de traçar uma comunicação que permita que outras comunidades também se beneficiem das boas acções, capacitações, intercâmbios, oportunidades, interacção, evitando concentrar tudo nas mesmas zonas.

As comunidades filtram o que lhes é proporcionado. Então, antes ou durante a interacção, é preciso compreender o que elas sabem de forma prática ou ouvem dizer, e saber o que acrescentar ou encaminhar. Elas sempre têm conhecimento porque vivem os problemas, pode não ser como os estudiosos compreendem.

Se é para as comunidades, então é preciso que as comunidades decidam olhando para os objectivos comuns.

Além desses recursos em perda florestal, Nhamatanda apresenta um potencial de recursos naturais como o ouro, pedra para a construção civil, com uma exploração artesanal ou mesmo aquela dos “bosses”, mas não deixa de ser uma destruição ambiental.

Nhamatanda ainda precisa de sinergias de ONGs, Governo e Sociedade Civil “de olho” com acções concretas, apesar de alguns só venderem esperança. (Muamine Benjamim).

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