Comunicar para Mudança

Nhamatanda sai de 300.000 para 500.000 toneladas

Há controvérsia quando se fala do Programa “Sustenta”. Uns aplaudem a iniciativa, enquanto outros criticam-na. Mas, hoje, trazemos uma versão dos produtores, especialmente no distrito de Nhamatanda, na província de Sofala, Centro de Moçambique.

Num “mar” de opiniões, este artigo apenas traz a versão dos que no terreno praticam e conseguem comparar as respectivas vidas pelo passado e presente, para perspectivar o futuro.

O Sustenta continua a sustentar? Mas para alguns está muito longe disso – está cercado de transgressões que contradizem a narrativa de sucesso propagado pelo ministro da Agricultura e Desenvolvimento Sustentável, Celso Correia, nos seus discursos e aparições na imprensa. Mas, in loco no interior de Nhamatanda, o “Profundus” traz versões de produtores da localidade de Siluvo.

Na maioria dos campos de produção que hoje foram alvos de reportagem estavam com mais de um hectare de milho, para no mínimo estimar três toneladas do produto a colher. E sendo algumas machambas com a semente que não demora de dar resultados, as famílias prevêem também produzir o gergelim, tanto que a separação entre plantas está no nível recomendável.

Para um crítico, é preciso forçar o raciocínio pelo “Sustenta” e assumir que o está a resultar alguma coisa. Para quem vive a realidade melhor consegue descrever, resumidamente, o quão louva o Programa.

Rosália Cinturão descreve que o “Sustenta” está a tirar a família da fome. Além do “tractor, já aprendeu a produzir de forma regrada em compasso” e reservar uma parte para incluir o gergelim.

Segundo Laurinha Fambawone, sobre “Sustenta” quem quer faz parte. “Estamos a comer mesmo comida [pelo] Sustenta”.

Para João Pangoma, outro Pequeno Agricultor (PA) quem critica “Sustenta não sabe o que fala porque está fora, se estivesse dentro, saberia”.

 

O que diz os Governo?

A avaliação que “fazemos em termos de Sustenta é muito positiva, com o tipo de produção [mecanizada], tipo de semente certificada com qualidade germinativa muito boa e a melhoria de técnicas de produção, 90X50 por exemplo ” do distrito.

O Sustenta “está a trazer um grande rendimento muito grande em termos de produção porque com pequena machamba, a nossa comunidade consegue produzir muito mais”, avaliou o administrador de Nhamatanda, depois da visita aos campos de produção agrícola de Pequenos Agricultores Comerciantes Emergentes [PACE’s], acrescentando: estamos satisfeitos como Governo”.

Conforme antecipou o Presidente da República, Filipe Nyusi, no dia 17 de fevereiro ao fazer o lançamento do “Sustenta” no distrito de Ribáué em 2017, “Vamos trabalhar. Vamos deixar os gestores implementarem o projecto concebido. Temos de ser persistentes e reconhecer que os desafios implicam a determinação e a coragem de implementar mudanças que só se vão consolidar com o tempo”.

Já o administrador de Nhamatanda, Adamo Ossumane questionado sobre as críticas que o “Sustenta” agora carrega disse que são “falácias” e justificou: “na verdade o que tem acontecido sobre os debates no âmbito de Sustenta se calhar são de pessoas que não vivenciam o quotidiano dos produtores”.

“Apenas são falacias, é verdade que não há nenhum projecto que tem 100 por cento de sucesso, pode ter havido uma e outra fraqueza, mas 90 por cento sentimos que [o Sustenta] é positivo”, avaliou Adamo Ossumane.

“Dantes, Nhamatanda produzia cerca de 300.000 toneladas de culturas diversas, hoje estamos a rondar nas 500.000 toneladas por cada campanha. Significa que há um ganho enorme”, continuou.

“Nhamatanda, hoje, já tem capacidade de produzir, consumir, vender, ter o excedente e uma parte guardada para usar como semente. Estamos a produzir o suficiente a partir do Sustenta”, terminou o dirigente distrital.

Em Siluvo, a reunião foi presenciada, também pelos respectivos directores dos Serviços Distritais de Nhamatanda.

Siluvo tem “matas” provocadas pelo Homem. Os campos de produção agrícola tornam invisível tudo que se “mergulha” ali.

Pela reacção da população, o “Profundus” apurou que Siluvo raramente recebe visitas do executivo. O que aconteceu na quarta-feira, “é raro ver dirigente a abandonar o respectivo escritório e mergulhar-se nas matas para aferir de perto o que realmente acontece nesta fase de produção agrícola”, repetia a população em cada intervenção.

Apesar do “sucesso” demonstrado pela implementação do “Sustenta” neste momento, a população de Nhamatanda queixa-se de pouca chuva que condiciona a produtividade.

Todavia, Moçambique já experimentou várias estratégias como a de Desenvolvimento Rural, Programa Nacional de Agricultura (ProAGRI), “Sete Milhões”, Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Sector Agrário (PEDSA), Terra Segura, entre outros. Mas agora, o “Sustenta” é o mais falado do bem ou do mal.

O “Sustenta” foi lançado pela primeira vez em 2017 para ser implementado em dez distritos das províncias de Nampula e Zambézia, cujo objectivo era de integrar pequenos camponeses a cadeias de valor de produção agrícola. Hoje, a iniciativa abrange todas províncias.

Com o ”Sustenta”, o objectivo do Governo é criar as condições necessárias para desenvolver a agricultura familiar que representa 98,7% das explorações agrícolas em cadeias de valor produtivas de larga escala.

O modelo do Programa “Sustenta” assenta na selecção de determinado número de Pequenos Agricultores Comerciais Emergentes (PACE), aos quais são concedidos diversos tipos de apoio, assumindo estes o compromisso de disseminarem os seus progressos técnicos (níveis de produção e produtividade) e alargarem a inserção no mercado destes e também dos Pequenos Agricultores (PA).

No programa, são considerados PACE (integrador), os produtores que produzem em áreas médias de 50 hectares, com orientação para o mercado. Os PA (integrado) são classificados como aqueles que trabalham em áreas mínimas de 1,5 hectares, com limitado grau de integração no mercado, baixo acesso a tecnologias de produção (mecanização, sementes de qualidade, químicos, etc.) e a serviços (financiamento e assistência técnica). (Muamine Benjamim/Profundus PDF).

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