Comunicar para Mudança

Campira: O casal da Gorongosa com corações em que cabem todos

Zareta na frente dos filhos e acolhidos

Geraldo Campira e Zarleta Bueza vivem maritalmente na zona de Cilindro, distrito de Gorongosa, na província de Sofala. É um casal de camponeses com condições que deixam a desejar, mas cuida mais de 16 crianças desfavorecidas não familiares, além dos seus seis legítimos.

Para quem pensa que é só nas cidades que existe o amor ao próximo ou é pelas condições que alguém pode ajudar, está enganado. Há também nas zonas rurais. Se não consegue apoiar na condição em que está, quando tiver poderá ser difícil ou mesmo tarde. Esta é a teoria do casal Campira.

O casal já é interpretado como anormal “louvor” nas comunidades pelo trabalho humanitário. Tudo começou quando um militar Afonso Fernando Jaime casou-se e teve dois filhos. Até 2020, foi ao chamamento de Ordem para defender a pátria no Norte de Moçambique. O homem desde que foi a Cabo Delgado, não regressou e muito menos fez sinal a família.

No fim de 2020, a esposa de Afonso Fernando Jaime faleceu deixando os dois filhos que juntos fizeram, no interior de Cilindro. Mas antes deste militar, a mulher viveu maritalmente com outro homem resultando oito filhos.

Dos oito irmãos, dois faleceram depois de fazerem quatro e três filhos, respectivamente. Estas quatro crianças têm sido abandonadas, ocasionalmente, pela mãe que cuida do pai doente depois de falecer a esposa.

São seis restantes dos oito filhos, mais sete filhos dos irmãos falecidos e seis do próprio casal, dependentes da produção agrícola do casal. É um número que na fala com Zareta dificilmente consegue lembrar até nomes e idades. Incluindo familiares que também recorrem ali, chegam 20 pessoas na mesma residência. “Neste tempo de fome, não imagina”, descreve a esposa de Campira, de 40 anos de idade.

As crianças que o casal Campira cuida recebem todo tipo de apoio, sem descriminação. “Até quando estão doentes, eu mesmo me preocupo em tratá-las sem estranhar”, descreve a esposa Zareta. Deve ser por causa disso que tem o sonho de ser enfermeira, já que este ano, a cuidadora vai fazer 10ª Classe na Escola Secundária Geral 25 de Setembro

“Na semana passada, a mãe dos três miúdos [que o pai faleceu] veio levá-los, mas já lhes tínhamos matriculado”. Conta Zareta que quando esteve na vila da Gorongosa, a progenitora veio levar as crianças.

“Não estou a ver o motivo de ela [mãe] levar as crianças”, admira Zareta, acrescentando que foi aquela mesma progenitora que teria abandonado os miúdos. “Acho que a meu ver, os levou para ir brincar”.

Por conta desta situação, Zareta diz que está muito confusa quando tenta associá-la aos “direitos da criança e da mulher”. Todos em idade escolar estudam na responsabilização do casal Campira, além de outras de precisar de apoio como descreve o par.

Zareta com mais de 16 pessoas por cuidar na casa, desempenha o papel de esposa, mãe, cuidadora, responsável de educação e aluna, ao mesmo tempo. É uma das raras mulheres. Cilindro fica ao redor do Parque Nacional da Gorongosa, pela Estrada Nacional Número Um (EN1).

Pela terra fértil da Gorongosa, o casal Campira produz vários excedentes. Especificamente, desde 2020, Zareta produz hortícolas. E por essa fertilidade, o distrito de Gorongosa é o primeiro senão o segundo depois de Nhamatanda em produção e produtividade ainda na Zona de Desenvolvimento Sustentável do PNG, província de Sofala.

Zareta diz que é graças ao apoio do marido para prestar o trabalho humanitário.

O casal Campira sonha por projectos do Parque Nacional da Gorongosa (PNG) e do Governo. Por agora, pede aos “corações moles”, vestuário para os miúdos, além de apoio escolar dos futuros gestores de Moçambique. (Luísa Franque e Muamine Benjamim).

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