Cheringoma, um distrito da região norte da província central de Sofala, virou a Meca de alguma imprensa nos tempos que correm. Falo concretamente da sua vila-sede: Inhaminga.
Poucos imaginavam que esta vila, que já foi a segunda cidade mais importante de Sofala depois da Beira, voltaria a ser famosa agora; não apenas pelo Massacre de Inhaminga cujo local da ocorrência até mereceu uma requalificação com a honrosa presença (para inauguração) do Presidente da República.
Nem o facto de ter visto nascer um dos maiores escribas da arena nacional logrou elevar esta vila, a tamanha popularidade. Refiro-me a ser o berço de Francisco Esaú Cossa ou simplesmente Ungulani Ba ka Khosa.
Sempre ficou no esquecimento (propositado?) de alguns decisores.
Hoje, Inhaminga anda de boca em boca e os motivos estão a ser exacerbados do meu ponto de vista.
Estamos todos eufóricos, entusiasmados e buscamos o pormenor que os outros ainda não descobriram para noticiar. Cada um querendo ser o primeiro a “descobrir” o que passou despercebido aos outros. Enfim todos queremos ser protagonistas. E não é para menos.
Há dias vi, num canal televisivo, uma reportagem em que se faziam revelações inéditas.
É que em Inhaminga nasceu Daniel Francisco Chapo, o candidato da Frelimo à presidência da República no pleito do próximo dia nove de Outubro. Mal aconteceu a sua eleição começou uma curiosidade inusitada sobre a terra onde nasceu o “futuro Presidente”. Começou-se por devassar a sua casa no Dondo e a esquadrinhar a família. Depois foi-se a Inhaminga para mostrar ao mundo onde foi nascido o Presidente de Moçambique a partir do escrutínio de Outubro, segundo alguns optimistas. Vai daí que, aqui na terra, se organizam marchas de saudação à indicação de Daniel Chapo a candidato da Frelimo. Por ser de Inhaminga a razão ganha mais força. Todos achamos que não vai ser como acontece(u) com Murrupula. Todos pensamos que o candidato da zona Centro vai agir diferente de outros que nunca levaram nada relevante para Chilembene, Maleíce ou Mueda.
E foi com essa convicção ou vontade que, no Sábado, dia 18 de Maio teve lugar uma passeata que partiu do Bairro Paulo Samuel Kankhomba, arredores da vila, mais concretamente saindo da Escola Básica local até à Escola Primária Completa 25 de Setembro, já no centro da vila, desaguando na Praça dos Continuadores.
Diversas individualidades locais e idas da cidade da Beira, a cerca de 190 quilómetros se fizeram presentes.
E porque o facto merece correr o mundo foi chamada a imprensa sedeada na Beira, mais especificamente a televisiva para que a fidelidade do testemunho fosse impecável e comprovasse a entrega e capacidade de organização dos mentores.
Até aqui tudo tranquilo.
É o mais natural em momentos similares, se calhar, por todo o mundo. É o espaço da pré – campanha que é crucial para começar a moldar vontades, desejos e convicções. Em jogos desta natureza a oportunidade conta, a antecipação vale e descobrir o momento, local e a acção correcta pode ser valoroso e influenciar consciências. E diga-se, a capacidade de mobilização foi razoável pois uma moldura humana considerável marcou a sua presença respondendo ao apelo das entidades. Um pequeno porém pode ser o facto de que muitos dos entusiastas que elevavam o número de participantes não sabiam explicar, com exactidão, à nossa reportagem qual era o motivo daquela marcha ou quais eram seus objectivos. Apenas seguravam em hastes com a bandeira do Partido Frelimo na ponta, erguiam-nas e acompanhavam a caravana. Alguns integrantes confessaram que estavam ali para que seus Chefes pudessem testemunhar que eles estiveram na marcha e, com isso, evitar dissabores no futuro. Outros ainda pediam-nos encarecidamente que não os incluíssemos no grupo dos entrevistados. E nós levamos em conta esse desejo. É o mais normal nestes dias em que um certo medo de sermos nós mesmos acomete principalmente aos funcionários públicos que, pelo menos no campo, se comportam (salvo raras excepções) com um conformismo cobarde e letal.
Porém, estas são outras águas. Onde pretendemos chegar é nos permitirmos fazer um reparo na crónica confusão, no nosso País entre actos partidários e de Estado. Vimos no local a utilização de meios do Estado para responder a uma solicitação/actividade partidária. Viaturas protocolares e motorizadas alocadas às Instituições do Governo apareceram para servir a um programa que é partidário.
Em democracias mais enxutas, é condenável esta prática que coloca os outros concorrentes, que muitas vezes não recebem fundos profícuos para toda a actividade de preparação, participação neste tipo de processos numa posição à partida, de desigualdades.
E dizíamos no título, a procissão ainda só vai no adro e já começaram os atropelos à lei. Será que vai existir uma legislação, algures, que possa regular ou vetar estas práticas e permitir que todos partam para a batalha em condições próximas da igualdade de circunstâncias?
Só o tempo o dirá porque não será o Secretário-Geral interino a trazer, pelo menos por enquanto, uma “nova ordem social” aos velhos procedimentos da cinquentenária. De resto, o nosso candidato já separou as águas e nos avisou: “…nós somos a madeira…a Frelimo é o mestre e ela (a Frelimo) faz de nós aquilo que quiser”. (Ricardo Mapoissa-Cheringoma).