Gorongosa e IIAM capacitam agricultores em técnicas de colheita e pós-colheita

As comunidades da Zona de Desenvolvimento Sustentável do Parque Nacional da Gorongosa são ensinadas a produzirem com técnicas agrícolas, apesar das mudanças climáticas, mas perdem quantidades significativas neste processo, da sementeira a pós-colheita, por isso, o Parque em coordenação com o Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM) capacita 201 produtores em técnicas de colheita e pós-colheita de cereais e leguminosas.

Segundo dados da Embrapa, até 40% da produção agrícola pode ser perdida devido a práticas inadequadas na colheita e pós-colheita. O tratamento pós-colheita é evidente na redução de perdas e desperdícios, que podem ocorrer devido a factores como deterioração, infestação por pragas e doenças, e danos mecânicos. Com a aplicação de técnicas adequadas, é possível prolongar a vida útil dos produtos, permitindo que os agricultores e distribuidores maximizem os seus lucros e ofereçam alimentos frescos e de qualidade ao mercado.

Os profissionais do IIAM treinam a equipa técnica do PNG e os produtores em tecnologias pós-colheita de milho, mapira, gergelim, feijão-vulgar e feijão-bóer para reduzir as perdas resultantes das más práticas de colheita pós-colheita.

Com estas capacitações, pretende-se reduzir as perdas e desperdícios que ocorrem durante a colheita e pós-colheita; garantir a qualidade dos produtos que chegam ao consumidor final, mantendo as suas características nutricionais e sensoriais; e aumento da vida útil dos produtos colhidos.

No total, são 201 produtores a serem capacitados em Gorongosa (54), Nhamatanda (54), Dondo (21), Muanza (21), Cheringoma (29) e Maringué (22). Todos os capacitados são líderes de grupos compostos por 25 membros com respectivos campos de demonstração agrícola onde todos aprendem as técnicas para replicar nos campos de produção individual.

No distrito de Nhamatanda, as capacitações decorreram em quatro dias, entre 22 a 25 de maio de 2025, juntando os produtores de Dondo.

O milho, a mapira e o gergelim são alimentos produzidos na Zona de Desenvolvimento Sustentável do PNG, mas perdem-se em quantidades significativas quando erradamente as técnicas de colheita e pós-colheita são aplicadas. Para evitar este desperdício, o especialista do IIAM, Domingos Dias, aconselha:

O milho deve ser colhido na época correcta ou na maturação fisiológica – mudança da coloração onde o cereal fica mais branco, mostrando sinais de secagem, mas não está tão seco. Nesta fase, as pragas estão adormecidas esperando o aumento da humidade e do calor para atacar.

A secagem natural é o método mais tradicional e de menor custo. Consiste em espalhar os grãos em terreiros ou lonas, expondo-os à acção do sol e do vento.

O milho quando está pronto para a colheita apresenta sinais específicos tais como folhas amareladas e secas, os grãos endurecem e adquirem superfície brilhante, as espigas com cascas secas inclinam-se para baixo sobre o caule e aparece uma camada preta onde o grão de milho se liga à espiga.

Por outro lado, os sinais de que a mapira está pronta para a colheita incluem uma humidade de cerca de 17 e 14% com secagem artificial. Sem recursos para secagem artificial, a colheita só poderá ser feita quando a humidade cair para 12 a 13%. Depois da colheita, dever-se estender por uma a duas semanas após as quais se faz a debulha. Depois de debulhar, tem que secar ainda mais por duas semanas de sol para mais tarde, fazer o tratamento do grão com produtos químicos recomendados.

Um armazenamento adequado é crucial para manter a qualidade dos grãos. Recomenda-se armazenar os grãos em silos limpos, secos e bem ventilados, com monitoramento constante da temperatura e humidade.

Nas comunidades rurais, é normal as famílias armazenarem o milho em celeiros onde por baixo faz-se cozinha, possibilitando que o fumo proteja o milho dos insectos.

Para avaliar a secagem, existem métodos práticos de baixo custo, por estalido, mordendo os grãos de milho, gergelim e feijões para aferir a sua dureza ou usando o sal não iodado, numa garrafa fechada hermeticamente, para evitar a entrada de ar e um pouco dos grãos para agitar. Se o sal colar pelas paredes do recipiente, significa que o milho continua húmido, mas se os grãos e o sal caírem ou a garrafa ficar limpa, os grãos já estão prontos para o tratamento e o seu subsequente armazenamento.

Não é aconselhável os produtores colherem o milho seco e armazenarem-no com espiga porque não estão a resolver o problema das infestações e infecções que na sua maioria, aparecem ainda no campo. Afinal, a pupa do insecto está na espiga e por mais que pulverizem, mais tarde vai atacar o alimento armazenado. Portanto, “é preciso debulhar antes do armazenamento”, aconselhou o especialista do IIAM.

Domingos Dias explicou que as capacitações são auxiliadas por matérias audiovisuais, brochuras, incluindo exemplos práticos de como aplicar as técnicas de colheita e pós-colheita de cereais e leguminosas pelas comunidades. No final, será entregue o manual de procedimentos sobre colheita e pós-colheita a cada um dos beneficiários do treinamento.

 

Produtores garantem mudança nas comunidades

Além de produtos químicos, os produtores, antes desta capacitação, foram instruídos a produzirem adubos e pesticidas com base no material local e disponível.

Como produzir pesticida, por exemplo? Levamos um pouco de piripiri, pilamos, misturamos com um pouco de tabaco, pedaço de sabão, se a machamba for grande, mistura com um quilo de açúcar e pouco de alho, misturando com água e conserva entre dez a quinze dias. Depois disso já pode pulverizar”, explicou o líder produtor de Bebedo, Fernando Amisse.

“Estou muito feliz com esses ensinamentos, parece que estudei muito, até ultrapassar o próprio técnico de agricultura. São pequenas capacitações que me deram mais conhecimentos, isso é um grande desenvolvimento para nós”, descreve o produtor, prometendo que vai aplicar todas as técnicas: “Vou aplicar tudo que aprendi, irei chamar os 25 membros, testando o meu milho, para aprenderem, da produção ao armazenamento, a partir do próximo ano”.

“O milho bem seco é esse que dá para guardar, mas para guardar, devemos usar medicamentos [produto químico], se não tiver condições financeiras de comprar, é só usar cinza misturada com milho, a seguir ensaca o milho e guarda para consumir nos próximos dias”, explicou Amina Martero Alfinete, líder de grupo de produtores da localidade de Bebedo, reconhecendo que há muito tempo não fazíamos isso, colhíamos o milho e o armazenamos no celeiro com cascas e espigas, mas perdíamos grandes quantidades do produto.

Amina Martero Alfinete conta que com as técnicas anteriores de colheita e pós-colheita do milho, em número de dez sacos, perdíamos em média dois sacos por apodrecimento ou invasão de insectos. Mas “já não vou perder nenhuma quantidade com aquilo que aprendi”.

Inácio Queface diz que esta capacitação impulsionou os conhecimentos antes adquiridos não apenas da fase de colheita, mas também os passos que antecedem, do preparo do solo, sementeira num espaçamento de entre 60 a 90 centímetros, colheita, secagem, debulho, armazenamento, consumo e garantia da próxima época agrícola.

O líder produtor, Inácio Queface, de Bebedo, partilha o aprendizado. “Quando as folhas do milho estiverem amarelas significa que o milho já está a ficar pronto para colheita. Não podemos deixar o milho ficar muito seco na machamba, ao colher, se assim for, corremos o risco de carregar com o insecto e respectivos ovos e vão se reproduzir no nosso celeiro. É preciso colher conforme a coloração das respectivas folhas, deixar secar em casa, peneirar bem e espalhar o produto químico recomendado pelos técnicos ou mesmo usar a cinza no acto do armazenamento”.

Esta capacitação decorre num momento certo porque é o período pós-colheita do milho. Então, ainda há tempo de se aplicar o aprendizado e garantir a semente para a próxima época de produção agrícola, uma vez que as comunidades, às vezes, queixam-se de demora de entrega de sementes de apoio. (Muamine Benjamim).

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