Para quem força a narrativa de que tudo é mentira sobre manifestação em Nhamatanda, eis alguns episódios, apesar de não ser de grande dimensão. Alguns cidadãos recorrem a manifestações tal como no resto do país que já soma cerca de 21 mortes, incluindo dois polícias. O distrito é o único com a Escola de Sargentos de Polícia (ESAPOL), SERNIC, além da Polícia da República de Moçambique (PRM) ao mesmo tempo. Estas três instituições fortificam a segurança distrital, ainda que com muitas entradas e saídas (atalhos) para o Norte e Sul de Moçambique.
O cenário de manifestações influenciado pela cidade da Beira, capital provincial, já se resume em escassez de transporte, principalmente na rota Nhamatanda-Beira.
Na segunda-feira, logo após o anúncio da presidente do Conselho Constitucional (CC), Lúcia Ribeiro, a Estrada Nacional Número Seis (EN6) foi ocupada por manifestantes. Mas a pronta intervenção das autoridades policiais tomou conta e devolveu a segurança, apesar de ainda permanecer o receio.
Pela EN6 que divide o distrito, em direcção a cidade da Beira, no Posto Administrativo de Tica (Nhamatanda), temporariamente, um grupo de manifestantes tomou conta da estrada. No “coração” da vila de Nhamatanda, moto-taxistas tentaram manifestar sem sucesso. E do lado oposto, via Inchope, concretamente na zona de Nharuchonga, foram colocadas barricadas (pedras, incluindo fogões usados habitualmente para fazer espetadas). A PRM fez-se aos locais para ordem e tranquilidade públicas. Mas o receio mantém.
Transportes com preços exorbitantes
Desde o anúncio de Lúcia Ribeiro, os preços de transportes, partindo de Nhamatanda a Beira, já variam, chegando até 2000 meticais.
De Nhamatanda a Beira normalmente custa 160 meticais, mas por conta da situação (manifestações), já é possível ser cobrado se for de Mini Busy, 200 ou 3000 meticais.
O “Profundus”, no terreno, coincidentemente “25 de Dezembro, Dia Família” deparou-se com transportes de Nhamatanda a Inhamizua Beira, não mais que este troço, cobrando 300 meticais; de Nhamatanda a Dondo (200) meticais. Dos escassos transportes, apenas um garantiu ser leal ao preço (160 meticais), mas com receio de ser vítima, principalmente na cidade pior depois de quebrado o seu vidro frontal à vinda a Nhamatanda.
Alguns transportes não querem ariscar. Outros são aqueles que normalmente circulam nos bairros da cidade da Beira, mas pela escassez de transporte, desviam a rota e já fazem Beira-Nhamatanda.
O “Profundus” deparou-se com dois carros que já não circulam porque foram vítimas de manifestantes, na cidade da Beira. Todos os vidros foram quebrados.
O motorista Jacinto Mário contou que se temendo o pior, ao entrar na Beira, deve tocar apitos, ter dísticos “VM7, Anamalala” gritar “povo no poder”, pagar ou ainda entregar alguns produtos aos manifestantes. Enquanto isso, alguns arriscados cobram até 2.000 meticais de táxi-moto vulgo txopela para a cidade da Beira.
Ainda no Natal, pelas 9 horas, camiões continuavam estacionados dentro da vila de Nhamatanda sem sair para a cidade portuária como de habitual. Ao que o “Profundus” apurou, os transportes, alguns por carregarem produtos, temiam a sua vandalização pelos manifestantes na Beira.
Fernando Sábado conta que é muito arriscado de Nhamatanda para a cidade da Beira. “O passageiro não conta com avarias quando te paga, tem longas distâncias para abastecimento de combustível, a movimentação de pessoas na Beira é diferente de Nhamatanda, o que pode provocar acidente para novatos. Contou o “txopelista”, lamentando a morte do seu colega por acidente, depois de levar passageiro àquela cidade portuária.
Do outro lado da rota, de Nhamatanda a Chimoio, também permanece o medo e com lucros insignificantes para as transportadoras. “Conseguíamos 3.000 meticais, como factura diária, mas nestes dois dias, oscilamos nos 2.000 a 2.500, sem contar com a parte de polícia transito (corrupção) ”, contou o motorista Mário Diogo, por isso, “pedimos paz, devem sentar os chefes para resolver esta situação que está longe de terminar”.
Lojas parcialmente fechadas
Na passagem do Natal, na vila municipal de Nhamatanda, algumas lojas que mais movimentam munícipes ficaram fechadas. O destaque foi para o Supermercado do Povo e a sua vizinha loja de peixe, Loja de Calçados e a outra atrás do BCI. Aliás, a do Povo, o “Profundus” soube que provou a fúria de manifestantes na cidade da Beira, por isso, não abriu em Nhamatanda.
Lembre-se que Nhamatanda é experiente em tensão-político-militar. Desde o abate de Mariano Nhongo, que era líder da autoproclamada Junta Militar da Renamo e pai natural do distrito, a população local prova nova fase de segurança. Portanto, uma manifestação de renome pode reactivar outro tipo de crime, considerando o actual cenário de assassinatos de mulher ainda sem esclarecimento.
Contudo, desde ontem, quinta-feira, Beira e Nhamatanda voltaram ao normal. (Muamine Benjamim).