Em menos de 7 anos do único Centro de Reabilitação de Pangolins em Moçambique, localizado em Chitengo “coração” do Parque Nacional da Gorongosa (PNG), já salvou cerca de 146 pangolins. Este trabalho conta com o “anjo” a veterinária do Parque Mércia Ângela e sua equipa.
Em Moçambique, o PNG é a única instituição que tem um Centro de Reabilitação de Pangolins salvando pangolins na sua maioria recuperados de furtivos.
Mércia Ângela, o anjo de pangolins como descreve a sua equipa da Gorongosa é veterinária que cuida do mamífero na sala mais escura cujo objectivo é simular a escuridão da noite e de uma toca – Centro de Reabilitação de Pangolins.
Por vezes o pangolim deve tomar leite
De 2018 a esta parte, a Gorongosa já salvou cerca de 146 pangolins”, conta Mércia Ângela, que aponta desafios desde a deslocação para a recuperação das mãos dos furtivos, pesquisa, colaboração com autoridades, cuidados médicos, alimentação diária, libertação no seu habitat e monitoria do animal.
O tráfico do pangolim é a principal actividade nociva humana para a extinção do animal. Os dados oficiais do Programa Mundial das Nações Unidas para o Meio-Ambiente, apontam para pouco mais de 1 milhão de pangolins traficados nos últimos 10 anos.
Para a recuperação de pangolins das mãos de furtivos pela Gorongosa, existem guardas florestais que se infiltram no mercado negro. Portanto, é uma actividade que exige custos, descreve a veterinária do Parque, que pede igualmente financiamento para a salvação do animal que desempenha um papel crucial na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas.
O pangolim ajuda a regular as populações de formigas e térmites, evitando que esses insectos se tornem pragas que podem prejudicar a vida vegetal e as culturas agrícolas. Ao se alimentarem de formigas, este animal também contribui para a riqueza do solo, pois o seu comportamento de escavação ajuda a arejar a terra, tornando-a mais fértil.

A Gorongosa recupera e trata todos os pangolins, independentemente de virem da sua Zona de Desenvolvimento Sustentável. As comunidades ao seu redor, sempre que encontram um pangolim fazem de tudo para devolvé-lo ao Parque – este é o “resultado de boa colaboração com elas e toda equipa de Conservação e de Desenvolvimento Humano”, avalia a veterinária.
No Parque da Gorongosa, há vezes que os pangolins são receitados leite. Tal é necessário em caso de pangolins bebés que ficaram órfãos e que têm de ser amamentados a biberão, com leite adequado para animais.
Em Moçambique, a presença de pangolim numa região é interpretada conforme o multiculturalismo. Existem regiões que associam este animal a mitos como o de acreditar que o foi enviado por Deus para aquela região prosperar, boas colheitas na agricultura pelas chuvas ou como azar. Entretanto, o furtivo o vê como a fonte de enriquecimento ao vende-lo.
Mércia e sua equipa a quem agradece tratam das feridas físicas, doenças e traumas ou mesmo estresse. Praticamente, “quando nos vê considera-nos como anjos”, depois do pangolim passar por episódios de perigo a vida com pessoas mal-intencionadas.
O pangolim recuperado depois de avaliado estar saudável é liberto no Parque natural – Gorongosa com protecção, tal como o pangolim Carlos Serra que coincidiu com o Dia Mundial do Pangolim, 15 de Fevereiro, a ser liberto. O mesmo vai acontecer com o “Larissa” apresentado aos participantes das comemorações em Chitengo.
Refira-se que dois alunos da Zona de Desenvolvimento Sustentável da Gorongosa tiveram como prémios bolsas de estudo por desenharem um pangolim que inspirou uma capa do livro “Contos Infantis para um Mundo Melhor” a ser apresentado na Espanha. Outros quatro vencedores ganharam cesta básica e bicicletas. (Muamine Benjamim).