Quero recontar esta estória em homenagem aos sacrificados pelo Processo, por se assumirem verticais.
Os factos ocorreram naquele ano em que decidi terminar o I Ciclo do Secundário. Já era Docente.
Havia sido enviado à força, apenas com a 8ª Classe à “formação”. Assim mesmo com inicial minúscula e entre vírgulas altas. Saí de lá com um problema de equivalência. Uns diziam ser médio, mas outros teimavam que continuávamos com a nossa 8ª Classe como nível.
Então, lá na Turma do Nocturno onde calhei para terminar o I Ciclo do Ensino Secundário, tínhamos toda a estirpe de professores e, também, de colegas. Uns mais dados que outros à corrupção. Falo da corrupção de todos os tipos possíveis e imaginários.
A época era de aflições e apenas os Comandantes, os Directores de qualquer coisa e os funcionários do DPCCN (o progenitor do INGD), eram os que conseguiam ser “os inteligentes” lá na Turma, para algumas cadeiras, estranhamente as que se convencionaram a serem as menos perceptíveis.
O episódio foi que lá para o final do ano, o professor de Língua Portuguesa marcou a sua última avaliação.
Quis, a fatalidade, que nesse dia ele não viesse à nossa sala, logo depois do toque, como era seu hábito. E, tínhamos na sala um colega com verdadeiro pavor a tudo o que metesse poesia, como texto suporte para a prova ou como trabalho de composição. Aproveitando a demora, um outro colega, não muito mau na cadeira em avaliação, nem inteligente à moda daqueles a que me referi mais atrás, pôs-se a “aterrorizar” ao amigo anti-poesia e questionou:
Que tal, se na composição, o professor pedir para elaborar um poema, e se este tiver como título “Noite”, o que irias escrever, colega?
Acto contínuo pulou para o quadro e começou a escrever, de improviso (?) o poema seguinte:
NOITE
“Noite perdida, para não passar.
Sai de casa os morcegos a passar.
Mata-se e o resultado é pobre.
Só quem dá sacos é que é nobre.”
Nisto, ouviram-se passos no corredor e, sem ter tempo nem objecto para apagar, correu a tomar o seu lugar, deixando o poema desamparado no quadro.
O professor entrou, distribuiu os enunciados e a prova foi realizada.
Mas ele viu o poema. Copiou-o, sorrateiramente, nada comentou na Turma e foi-se embora, no final.
Diz-se que gerou um mal-estar geral na Comunidade de Professores da Escola, quando o apresentou aos colegas, porque os sacos que os ditos-cujos ofereciam aos professores é que transformavam verdadeiros “sapateiros” em homens iluminados.
Isso era verdade e o poema revelava-o.
Feridos na sua “honra?” os professores, que já sabiam quem tinha escrito o poema no quadro, exigiam a expulsão do infractor. Para eles era exagerada a afronta, mas acabou imperando o bom senso e o aluno até dispensou.
Este episódio da década 90 vem à memória sempre que vejo, por estas bandas, uma nomeação com laivos de insulto à Sociedade. Me questiono que tipo de parcerias foram estabelecidas à revelia do comum do cidadão para se valorizarem estes concidadãos de talento duvidoso.
No Sector da Educação, eu chego a conjecturar, se a ideia que grassa a nível macro, e que leva a produzirem-se Manuais deturpados, não estará sendo descarregada aqui para as bases com o objectivo único de emburrecer toda Nação?
Pois, qual pode ser o objectivo de quem indica ou que qualificação torna elegível alguém que não sabendo caminhar com os seus próprios pés é empurrado para que ajude os outros a andarem sem tropeçar?
Se ninguém pode dar o que não tem, então o que se pretende quando aos concidadãos com lacunas detectáveis a olho nu são dadas a tarefa de orientarem processos complexos que exigem que, mesmo indivíduos devidamente adestrados, se reinventem todos os dias?
É apanágio que para cargos de Direcção e Chefia, colocamos aqueles a quem confiamos, e ao que parece quanto menos competentes mais elegíveis. Mas tratando-se de leccionar, é pecado capital pedir que alguém vá falar aos outros daquilo que nunca dominou ou de que nunca se apossou.
E o processo está de tal forma viciado ou inquinado que mesmo os que se dizem inspectores não conseguem numa simples conversa de trabalho, entender que do lado do interlocutor não há sabedoria básica para o cargo ou função.
Mas seria de admirar se os tais “ inspectores” um dia se insurgissem ou propusessem substituição de alguém. Há crimes maiores que nos acompanham, já passam décadas e que permanecem indetectáveis aos olhos destas eminências. Eu me explico:
Desafio a qualquer entidade, com capacidade ou possibilidade de verificar exames duma Escola Secundária, na décima classe. Será que o Movimento Educação Para Todos (MEPT) que tem Qualidade de Educação como uma de suas áreas de actuação tem competência para tanto!?
Se sim, vá a uma Escola qualquer, pegue aleatoriamente num júri da Décima Classe, leia as respostas constantes das provas de Exame e se surpreenderá com a constatação. Todas as respostas são milimetricamente iguais. Vírgula por vírgula, ponto por ponto. E por quê?
As respostas são produzidas algures no Bloco administrativo. Fotocopiadas. Distribuídas pelos vigilantes dóceis (felizmente alguns já se recusam a fazer esse jogo de loucos) e estes ditam aos examinandos do júri que era suposto vigiarem para se evitar fraude.
E no final, na sala de correcção, ainda se ensoberbecem quando logram apanhar um que consegue escrever bem um ditado e chega a quinze valores ou mais. Ficam felizes por conseguir nota alta num exame que eles próprios realizaram. Não é doentio isto?
Mas queremos que haja alunos aplicados quando todos eles sabem que no final, até o Exame será resolvido pela Escola.
E, aqui em Inhaminga, além de tudo isto que, eventualmente, como em qualquer Escola do País acontece. Ainda há o caso de uma classe de Funcionários do Estado que se sente como rebanho sem Pastor.
Ninguém se levanta para espantar predadores quando se aproximam do mesmo. Qualquer um pode fazer o que bem quiser com qualquer ovelha do rebanho. Puxar para o seu curral, trocá-la com o que ou com quem quiser, abater…
É um salve-se quem puder. Com a agravante de que já chegaram avisos ao mais alto nível, localmente, denunciando a apatia do Dirigente. Mas por qualquer razão que teima em permanecer oculta, vai-se vivendo sem norte.
Não se sente a presença de quem lideraria o Grupo. Apenas algumas acções atabalhoadas de adjuntos. Nada de concreto. Não se reúne a Classe para falar de si e seus planos, para debater problemas e planificar realizações. Está tudo na santa Paz dos mortos.
Será ofensa perguntar quem tira proveito deste status quo? (Ricardo Maphoissa/Profundus PDF).