Comunicar para Mudança

QUEIMA DE ARQUIVO OU RESGATE? SERNIC abate dois raptores peças-chave para esclarecimento

O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) chamou na quarta-feira, 13 de novembro, a imprensa para anunciar que tinha desmantelado um cativeiro e resgatadas duas vítimas de raptos, das quias o cidadão português raptado no dia 29 de outubro, na Avenida Armando Tivane, no bairro da Sommerschield, na cidade de Maputo. Em conferência de imprensa realizada no cativeiro, no Bairro de Jonasse, no Município da Matola Rio, o porta-voz do SERNIC, Hilário Lole, disse que durante a operação tinham sido assassinados dois raptores, em circunstâncias que as autoridades ainda não esclareceram completamente, deixando um mar de interrogações.

Por exemplo, o que poderia ter sido uma ope ração de resgate, voltada para salvar vidas das vítimas dos raptos e responsabilizar os culpados, resultou em acção violenta que deixou quatro supostos sequestradores mortos. A identidade dos mortos revela que todos seriam agentes do SER NIC, facto que cria dúvidas sobre a legitimidade da operação e as intenções do SERNIC no âmbito da operação.

Da observação das cenas em conformidade com as fotografias que circulam nas redes sociais denota-se a possibilidade de uma possível execução sumária. Manchas de sangue espalhadas pelo chão, marcas de tiros em ângulos que sugerem pouca ou nenhuma resistência e a ausência de evidências de confronto reforçam a ideia de que a operação não respeitou os protocolos esperados num Estado de Direito. A suspeita de que os sequestradores ou talvez os agentes do SERNIC envolvidos tenham sido mortos sem qualquer chance de se render cria dúvidas sobre os métodos empregados pelas autoridades no desmantelamento do cativeiro.

A informação de que os indivíduos mortos pertenciam ao SERNIC coloca mais uma vez em causa a reputação da instituição, deixando no ar a seguinte questão: por que agentes do principal serviço investigativa do país estariam envolvidos num esquema criminoso de sequestro? Seriam eles participantes voluntários desse crime hediondo ou estariam a actuar no seguimento das ditas ordens superiores?

Este é mais um caso que reforça a ideia de que existe um padrão de violência e impunidade dentro das Forças de Segurança. A morte de supostos criminosos durante operações do SERNIC, muitas vezes sem uma investigação adequada, cria um cepticismo sobre a integridade das acções da instituição e o comprometimento das autoridades em investigar os seus próprios agentes.

No contexto das recentes manifestações populares que têm tomado as ruas do país, a questão que não se cala é a de saber se a operação levada a cabo não seria uma tentativa de desviar a atenção pública. Seria o desmantelamento do cativeiro, com todos os seus desdobramentos controversos, uma manobra para desviar o foco dos protestos e denúncias que exigem reformas profundas e o fim da corrupção no país? A sensação de que as mortes foram uma “queima de arquivo” para encobrir verdades é iminente e a resposta das autoridades será crucial para dissipar ou confirmar essa suspeita, pese embora, em casos do género, normalmente, o silêncio e a falta de desfecho dos processos seja a resposta que as autoridades apresentam.

Diante das incertezas mostra-se evidente que uma investigação imparcial e transparente se faz necessário para que seja esclarecido o caso e seja desvendada toda a teia do crime ora cometido. Aliás, importa referir que em tempos de incerteza, como os que Moçambique atravessa, o silêncio das autoridades é necessariamente suspeito e inaceitável. (CDD).

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