SOBRE EUCALIPTOS PELA PORTUCEL: “Fomos enganados, se ouvirem que a cadeia está cheia, somos nós, levamos as nossas terras”

Há violações de Direitos Humanos nas comunidades onde foram plantados eucaliptos. Os donos das terras chegam a trocar sexo para o acesso ao emprego, colocando uma insegurança às mulheres e meninas locais, falsas promessas, ameaças de quem tenta reivindicar praticadas por “agentes de
ligação” da Portucel. Com isso decidem: “estamos cansados; estamos muito cansados; estamos a informar agora que se ouvirem
que aqui a cadeia está cheia, somos nós, que já levamos as nossas terras; se for para morrer, vamos morrer, nós somos daqui, esta terra é nossa, foram nossos antepassados que nos deixaram, não fomos lá em Portugal roubar de ninguém, então
vamos ocupar as nossas terras”.

Essas são reacções tidas num encontro da Justiça Ambiental, Missão Tabita e Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM) que organizaram um intercâmbio e partilha de experiências na comunidade de Parrei, no posto administrativo de Mugulama, juntando outras vítimas das províncias de Nampula (afectadas pelas plantações da Green
Resources), Manica (afectadas pelas plantações da Portucel Moçambique) e da província da Zambézia (afectadas pelas plantações da Portucel Moçambique e da Mozambique Holdings).

Inicialmente, os residentes acreditaram nas inúmeras promessas feitas pela Portucel Moçambique, que teriam empregos, construção de escolas, hospital e outras infra-estruturas que tanto prometeram, tornando assim uma aceitação local da empresa. Mas hoje, já se fartaram de esperar pela tão prometida vida melhor, já não acreditam na Portucel, nada nas suas vidas melhorou, pelo contrário partilham histórias tristes de sistemáticos abusos de poder, violação de direitos, insegurança, perda de meios de subsistência e continuam sem opções, sem empregos e sem terra. Alguns já perderam o respeito e o medo dos tão temidos “agentes de ligação” da Portucel – os que vão às casas dos que reivindicam ou levantam a voz contra aquela empresa.

Em Mugulama, e em outras partes da província da Zambézia, a Portucel já começou a cortar os eucaliptos. As comunidades julgavam que uma vez cortado, teriam finalmente de volta às suas terras. No entanto, a empresa esclareceu que voltará a plantar e a terra lhes pertence. Esta informação revoltou muitos membros da comunidade e alguns vendo as terras livres dos eucaliptos, rapidamente voltaram a prepará-las para o plantio, motivando visitas intimidadoras de prisão. Aliás, “alguns foram até avisados que aqui se morre! Mas muitos estão revoltados, firmes que vão ocupar as suas terras, afirmando que não roubaram nada, foram enganados e arrancaram as suas terras, agora não querem mais nada com a Portucel”, denuncia a Justiça Ambiental.

No encontro, soaram mais as vozes das mulheres – são elas que cuidam da família, é por isso e sobre elas que recai o peso de assegurar água, alimento e cuidados. Elas vêem se muitas vezes sem opções, recorrem ao corpo como moeda de troca, seja para conseguir
emprego ou para alcançar as metas impostas nos poucos empregos disponíveis.

As mulheres falam da insegurança para as raparigas nas áreas com plantação, mais uma vez os seus corpos são usados e abusados.

“Estamos cansados! Estamos muito cansados. Estamos a informar agora que se ouvirem que aqui a cadeia está cheia, somos nós, que já levamos as nossas terras. Se for para morrer, vamos morrer, nós somos daqui, esta terra é nossa, foram nossos antepassados que nos deixaram, não fomos lá em Portugal roubar de ninguém, então vamos ocupar as nossas terras”, determinaram.

A Portucel Moçambique é uma empresa de produção de eucalipto para celulose criada em 2009 pela gigante portuguesa The Navigator Company, uma das maiores empresas europeias do sector de papel e celulose, e a terceira maior exportadora de Portugal, responsável por 1% do PIB do país.

Em Moçambique, a Portucel obteve do governo uma concessão de uso de 356 mil hectares por 50 anos renováveis para implantar o maior projecto do país de produção de pasta de celulose para exportação, por meio do plantio de extensas monoculturas de eucalipto.

O investimento de cerca de 2,5 bilhões de dólares teve participação de 20% do Banco Mundial, através da Corporação Financeira Internacional (IFC). Desde então, passam relatórios apreciáveis, enquanto no terreno, as comunidades exigem concretizações (soluções).

A Portucel Moçambique contactada pelo “Profundus” sobre estas preocupações, reagiu. Detalhes no semanário Profundus.  (Muamine Benjamim).


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